Conta a história que o compositor Claude Debussy, sentado na banca de admissão do Conservatório de Paris, encantou-se tanto com a prova da menina de 12 anos que foi até ela e pediu que se apresentasse de novo. A pequena era Guiomar Novaes, recém-chegada do Brasil. Para Debussy, foi uma revelação. E sensação similar teve, na semana passada, um pequeno grupo de jornalistas e músicos que, na manhã de sexta, ouviu pela primeira vez uma gravação até então perdida da pianista – um recital em Londres nos anos 1960, que marcou a inauguração do Queen Elizabeth Hall.

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O registro foi garimpado pela pianista Lilian Barreto, que coordena, ao lado de Luiz Fernando Benedini, o Concurso Internacional BNDES de Piano. Este ano, em sua 2.ª edição, o evento vai homenagear o legado da artista. “Quanto mais pesquiso sobre ela, mais espantada fico com a importância que teve”, diz Lilian, que na quinta-feira acertou com a família de Guiomar os direitos de lançamento da gravação.

“Ela foi a grande pianista brasileira, conhecida no mundo todo. É espantoso como foi amada. Nenhum outro artista brasileiro teve tanto reconhecimento. Ter sido convidada para o recital de inauguração do Queen Elizabeth Hall é uma prova disso. É impressionante que tenha sido esquecido”, diz Lilian.

Guiomar Novaes nasceu em São João da Boa Vista e foi aluna, em São Paulo, do maestro italiano Luigi Chiaffarelli. Começou a tocar aos 8 anos e, pouco depois, com auxílio do governo do Estado, partiu para a Europa. Sua carreira a levou para todos os grandes palcos europeus e dos EUA. O auge de sua trajetória não coincidiu com o boom do mercado discográfico, mas ainda assim ela deixou registros preciosos do repertório, em especial nas parcerias com o maestro Otto Klemperer e a Sinfônica de Viena.

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Álbum

“A primeira tiragem terá 300 discos para divulgação; mil exemplares para distribuição pelo BNDES; e dois mil para a venda no concurso, que será realizado em outubro e, este ano, tem novidades, como a compra de 20 pianos para que os candidatos possam se preparar para as provas. Depois, os direitos voltam para a família, de quem vai depender a existência de novas edições”, conta Lilian. A pianista faleceu em 1979, em São Paulo.

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Na gravação, Guiomar toca a “Sonata A Tempestade”, de Beethoven; a “Sonata em Si Menor”, de Chopin; e quatro prelúdios de Debussy, mais quatro bis. “São minutos e minutos de aplauso”, diz Lilian. Segundo o pianista Nelson Freire, o International Piano Archives, em Baltimore (EUA), tem centenas de gravações ao vivo e de estúdio de Guiomar, à espera de edição. As informações são do Jornal da Tarde.