Reorganização do espaço metropolitano: século XXI.
Hoje, ao chegar ao século XXI, vê-se que a ocupação urbana na Região Metropolitana de Curitiba concentrou-se na busca aos terrenos aptos possíveis, porém esbarrando sempre nos umbrais formados pelos condicionantes naturais.
Enquanto a mancha da Grande Curitiba se espraiava sobre os municípios vizinhos ao pólo, a metrópole se adensava. Basta atentar-se para a skyline de Curitiba, com um perfil que na década de 70 praticamente se limitava ao centro da cidade. Hoje, ao iniciar-se o século XXI, os edifícios comerciais cresceram sobre a Avenida Cândido de Abreu, de um lado, e sobre a Rua Comendador Araújo, do outro lado do centro, enquanto a silhueta dos altos prédios residenciais acompanha o cordão das vias estruturais, formando um continuum do Cabral ao Bigorrilho e do Cajuru ao Batel.
O primeiro planalto, onde se situa a região de Curitiba, tem uma larga coroa de terrenos dobrados ao norte, conjugados com a escarpa devoniana a oeste (que antecede o segundo planalto paranaense) e a Serra do Mar a leste.
Embora expandam-se sobre a vasta extensão de terras, as fortes dobraduras impedem um crescimento mais franco para o Norte. Basta ver a urbanização contida de Bocaiúva do Sul, município com muitos anos de existência, além da ocupação ainda incipiente de municípios antigos (Adrianópolis e Cerro Azul) ou novos (Dr. Ulysses, Itaperuçu e Tunas do Paraná), incluídos mais recentemente no extremo norte da Região Metropolitana.
O sobrevôo desses municípios mostra continuados maciços montanhosos, cobertos de vegetação densa, portanto propícios ao reflorestamento, entremeados de poucos vales onde se desenvolve precária agricultura, pois o escoamento da produção se torna dificílimo. Destacam-se ainda, nessa paisagem monotonamente repetida, algumas áreas de mineração extrativa a céu aberto nas cercanias de Rio Branco do Sul.
O Rio Passaúna definitivamente se impôs como limite da cidade de Curitiba no Oeste. A conjugação da sua APA – Área de Proteção Ambiental com a Cidade Industrial de Curitiba – CIC, em primeiro lugar, e com a APA do Rio Verde, em segundo, criou um grande espaço que constrange a construção de habitações a oeste, formando uma zona-tampão ou cinturão de difícil transposição.
Apesar disso, o novo shopping center que se instala no vale do Rio Barigüi, este mais próximo do centro do pólo que o do Passaúna, mostra ainda a atratividade do crescimento da cidade no sentido oeste, na seqüência daquele longínquo dia em 1871, quando há 230 anos se inaugurou a ponte sobre o Rio Ivo. Como se diz o responsável pelo empreendimento: “Olhamos sempre para onde a cidade cresce, entramos com nossos empreendimentos e ajudamos a desenvolver a região”.(25) Porém, por isso mesmo, será uma ocupação mais rarefeita, voltada às classes mais altas de renda, em grupamentos de mansões ou condomínios fechados.
Em que pese a presença dinâmica de Campo Largo a oeste, cujo parque industrial reforçou-se com a instalação da unidade automotiva da montadora Daimler-Chrisler, o bloqueio das áreas de proteção dos recursos hídricos impede a Grande Curitiba de estender seu processo de conubarção para o poente, como originalmente se pensou no planejamento metropolitano do final da década de 70.
No PDI-78 se previa que a estruturação de Curitiba, de modo linear em eixos urbanos orientados na direção leste-oeste, levaria o desenvolvimento para os lados de Campo Largo, do mesmo modo que se prenunciavam as conurbações de Colombo e Pinhais.
Do outro lado, no leste, a expansão da Grande Curitiba enfrenta o agravante de que, no sopé da Serra do Mar, estão os mananciais que abastecem grande parte da população do planalto curitibano, pois às represas do Rio Piraquara se acrescentou a do Rio Iraí, cuja inclusão aumentou a produção de água tratada em 4,2 metros cúbicos por segundo, conforme o anúncio oficial do governo.
Portanto, a única saída para o desenvolvimento urbano a médio e longo prazo é para o sul. Porém, o tecido urbano denso esbarra com a calha de inundação do Rio Iguaçu, que atinge largura considerável e provoca um hiato difícil de ser vencido, hoje pontilhado de pequenos lagos resultantes das cavas de areia. Soma-se também aí a presença da estrada de ferro, formando um dique que acompanha o leito do corpo d’água. Mais ao sul, o espaço metropolitano é marcado pelos afluentes do Alto Iguaçu, que criam cunhas bloqueadoras de ocupação com suas áreas de proteção.
Por isso, é hora da retomada do planejamento metropolitano, pois o vigor do crescimento dos municípios que circundam a Grande Curitiba obriga à visão centrífuga e a atuar de modo transversal, ligando diretamente núcleos municipais e criando assim uma atração colateral entre eles, diversa da atração polar de Curitiba, para o que a abertura ao tráfego da Rodovia Contorno Leste (BR-116) será o deflagrador da explosão urbana que se pode antever.
Notas e referências bibliográficas
(25) José Isaac Peres / Grupo Multiplan. O ParkShopping Barigüi terá 44 mil metros quadrados de área construída num empreendimento orçado em 200 milhões de reais. O shopping será entregue em 2003 baseado no conceito de multiuso, unindo lojas, cinemas, centros de ginástica e alimentação num só lugar. In Revista Exame: São Paulo, 12 dez 2001. p. 56.
Vicente de Castro Neto
é arquiteto e urbanista. Formado na primeira turma do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná em 1966, onde depois foi professor regente de Teoria do Planejamento e de Planejamento Urbano e Regional. Participou da equipe do Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba, tendo também criado e coordenado o órgão responsável pela Região Metropolitana de Curitiba – Comec, ao mesmo tempo que dirigiu a elaboração do Plano de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana, publicado em 1978.GRANDE CURITIBA: UM OLHAR SOBRE A EVOLUçãO URBANA (III) |
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