Nova York – Passados 8 meses de sua morte, o pianista, cantor, saxofonista, arranjador e produtor Ray Charles foi homenageado pela 47.ª edição do Grammy Awards com 8 prêmios na noite de domingo, no Staples Center, em Los Angeles. Morto, Ray Charles bateu os principais concorrentes vivos do Grammy e teve seu disco de duetos Genius loves company consagrado como álbum do ano e com a gravação do ano.
A consagração póstuma de Ray Charles foi dupla este ano. Seu disco vendeu mais de 2 milhões de cópias, um recorde entre os mais de 60 álbuns que ele lançou em vida. Na falta do artista, entrou em cena para "dublá-lo?? e tocar piano o ator Jamie Fox, que interpreta Charles no filme biográfico sobre o cantor.
Ray Charles tinha 73 anos quando morreu, em junho, e ganhara até então 12 Grammys em toda sua carreira de 50 anos. A noite em que tinha ganhado mais Grammys, em vida, foi em 1960 (quatro, incluindo dois pelo clássico Georgia on My Mind. Ao ganhar o prêmio de melhor canção pelo seu dueto com Charles, Norah Jones foi emotiva. "Acho que vou chorar."
Os mais indicados artistas saíram com poucas estatuetas. Kanye West, o compositor e produtor que estreou no rap em 2004 com o disco The college dropout, tinha sido indicado para 10 Grammys. Acabou levando apenas três, incluindo disco de rap e canção de rap (Jesus walks). A cantora de R&B Alicia Keys e o cantor-bailarino Usher, que concorriam a oito estatuetas, levaram quatro (Alicia) e três (Usher). Mas este último teve a honra de fazer um grande dueto sacudindo os quadris com o venerável James Brown.
O grupo Maroon 5 foi eleito a revelação do ano, batendo Joss Stone, Gretchen Wilson, Kanye West e Los Lonely Boys. O cantor do Maroon 5, elegante, tentou elogiar o principal concorrente. "Kanye West, quero agradecer por você ser maravilhoso." A câmera foi para West, que não parecia nada feliz com o gesto. Depois, quando recebeu seu Grammy de disco de rap, West fez um discurso emocional, referiu-se a um acidente de automóvel que quase o matou há alguns anos: "Eu planejo celebrar e gritar e estourar champanhe em cada chance que eu tiver, porque estou nos Grammys, babe!".
O Brasil não ganhou nada (Bebel Gilberto perdeu a estatueta de melhor disco de world music para o senegalês Youssou N?Dour), mas a cerimônia não esqueceu completamente do Brasil. O produtor Tom Capone, morto no ano passado num acidente de moto em Los Angeles (logo após a apresentação do Grammy latino), foi homenageado pela galeria de artistas mortos recentemente que colaboraram para a saúde da música internacional. Capone apareceu no telão, junto com astros que se foram recentemente, como Artie Shaw, Dimebag Darrel e outros.
Os veteranos também foram lembrados, como Jerry Lee Lewis (premiado pela carreira dedicada à música) e Loretta Lynn (premiada pelo disco mais recente). Loretta, aliás, protagonizou o momento mais divertido da noite, arrastando para o microfone o encabulado produtor do seu álbum, ninguém menos que o esquisitão Jack White, do White Stripes.
Os números musicais foram melhores que em anos anteriores – à exceção do trágico dueto latino entre Jennifer Lopez e seu namorado, Marc Anthony, na cama, no Dia dos Namorados americano. Foi de doer os ouvidos. Mas o encontro de Bono Vox, Stevie Wonder, Ray Charles, Billy Joe Armstrong, Steven Tyler e uma plêiade de artistas cantando Across the universe, dos Beatles, foi gracioso. O download imediato da faixa pelo iTunes, após o número, permitia que o dinheiro fosse dirigido para as vítimas das tsunami na Ásia.
O rock até que foi festejado, dada sua baixa quantidade de indicações (em face do estridente R&B e do rap). A banda irlandesa U2 ganhou três prêmios, incluindo melhor performance de rock. O trio punk Green Day, que tinha o maior número de indicações no gênero (seis), ganhou como melhor disco de rock pela ópera punk American idiot.
Brian Wilson, dos Beach Boys, que levou mais de 30 anos para concluir o disco Smile, ganhou pelo melhor rock instrumental com a música Mrs. O?Leary?s cow. O homem que fez o rock?n?roll celebrar a harmonia vocal acabou levando por uma música instrumental. "Esperei 42 anos por esse Grammy e foi bom ter esperado", ele disse nos bastidores. "Significa triunfo e reconhecimento na música, que eu sinto que mereço." A dubladora profissional e dançarina Britney Spears ganhou seu primeiro Grammy pela melhor gravação dance, com Toxic. Yo-Yo-Ma, com o disco Obrigado, Brazil, levou prêmio de melhor composição instrumental.