Grafiteiros lutam para colorir ruas em ‘Cidade Cinza’

São Paulo é uma cidade opressiva. Cinzenta. Não tem mar. Esmaga seus moradores com seu trânsito indescritível, seu traçado caótico, sua feiura brutal, o excesso de ruído. Desse modo, e com grandes planos aéreos da metrópole assustadora quando vista de cima, começa o filme. Vemos uma mancha urbana monótona, pontiaguda, com edifícios que brotam fora de controle, ao deus-dará. As vozes que acompanham as imagens, em puro paulistês, falam da opressão das ruas. E dizem do desejo de colocar um pouco de cor nesta, com perdão do clichê, selva de asfalto e concreto armado.

Assiste-se com grande prazer ao documentário Cidade Cinza, de Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo. Essa turma que deseja colocar cor nas ruas é formada pelos grafiteiros armados de talento e latas de spray. Desenham, pintam, fazem arte. E nem sempre são reconhecidos. Pelo contrário, muitas vezes são acusados de emporcalhar ainda mais a cidade. O filme é a história deles, em especial de Os Gêmeos – Otávio e Augusto Pandolfo – e outros: Nina, Nunca, Zefix, Finok e Ise, em sua busca de espaço e reconhecimento.

O epicentro, digamos, é um painel numa muralha do centro, apagado na gestão de Gilberto Kassab. Com a lei da cidade limpa, o painel foi considerado sujeira e recoberto por uma “higiênica” tinta cinza. Para ornar com o resto do ambiente, vizinho à bucólica Avenida 23 de Maio.

A luta para reocupar com arte aquele espaço é uma espécie de simbologia do grupo. Uma simbologia vitoriosa, afinal de contas. O painel foi repintado, sob os auspícios da Prefeitura, numa espécie de mea culpa por não saber distinguir entre arte e rabisco. O próprio prefeito, e o secretário da Administração da Sé, Andrea Matarazzo, compareceram ao ato quando o painel ficou pronto.

Ok, este é o lado oficial da história. Mas que, por outro lado, revela seu aspecto mais aventureiro quando os rapazes e moças dizem do prazer que é sair pela cidade munidos de seus sprays em busca de um lugar para pintar. Um deles diz que o prazer de grafitar só se compara ao sexo. É um ato de liberdade. E de uma técnica que se vai construindo à medida em que vai sendo feita. O grafite pode ser visto como uma das manifestações do hip-hop, da cultura urbana de periferia, ao lado do break, dos DJs. Arte pop do século 21. Goste-se ou não.

Arte de guerrilha, o grafite não se acomoda muito a reconhecimentos oficiais e a discursos de políticos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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