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Grace Passô, Jarid Arraes e Carmen Maria Machado falam sobre identidade

Um tema dominou as conversas da tarde de sábado, 13, na 17.ª Festa Literária Internacional de Paraty: a identidade. Tudo começou com uma bonita leitura que a dramaturga e diretora Grace Passô fez de seu livro/peça Mata Teu Pai (Cobogó), em que ela traz Medeia para os dias de hoje, numa conversa com temas que afligem mulheres negras, brancas, sírias, haitianas, paulistas – personagens que evoca em seu monólogo. Ao final, participou de uma conversa com José Miguel Wisnik sobre escrita, teatro e identidade.

“Existe um processo de subjetivação muito profundo ao se entender a mulher negra nesse país”, disse Grace. E explicou falando sobre outro trabalho, Vaga Carne, no qual ela investiga a saga das mulheres negras, de hoje, por dar nomes e lidar com o corpo como ideia de construção social. “Não é fácil para nenhuma mulher negra chegar diante do auditório da Flip e dizer isso. E isso, obviamente, vem com muito orgulho, mas não é fácil. Essas nomeações identitárias que estamos dando é para que coisas das nossas vidas que são essenciais não passem despercebidas e que nossas existências sejam vistas e respeitadas depois de um histórico de invisibilidade profunda.”

Na mesa seguinte subiram ao palco da Flip a cearense Jarid Arraes, autora de Redemoinho em Dia Quente (Alfaguara), e a americana de origem cubana Carmen Maria Machado, que está lançando O Corpo Dela e Outras Farras (Minotauro/Planeta).

As autoras falaram sobre como o local de origem influenciou e influencia sua escrita. Jarid comentou sobre sua relação conflitante com o sertão do Cariri. “Cresci muito rebelde e revoltada com a minha terra e com as pessoas que estavam ali comigo, mas tive sorte de crescer cercada pela cultura popular do Cariri e pela literatura”, disse. E completou comentando que hoje conseguiu resolver essa relação de amor e ódio, e que se sente grata por sua origem. “Fui uma menina criada no sertão e isso fez toda a diferença na minha vida.”

Carmen é da Pensilvânia, de “estranha pequena cidade, entre a cidade grande e o interior, entre altos prédios e milharais”. A escritora também sentia que não pertencia, e isso tudo foi, de certa forma, uma inspiração. “Não tinha nada lá e eu tinha que inventar história. Eu estava sempre meio que criando o espaço mágico que eu queria como a minha casa.” Com o passar do tempo, mais velha, percebeu havia muitas qualidades góticas naquele lugar.

Em Redemoinho em Dia Quente, Jarid retrata a vida no sertão pelo olhar de mulheres diversas. Na mesa, ela leu um trecho do conto Telhado Quebrado Com Gente Morando Dentro, sobre a relação de duas irmãs e sobre a tentativa de abuso que uma delas sofre do pai. “Cresci vendo mulheres sofrendo traumas e eu também passei por isso. Continuamos vivendo nesta casa de telhado quebrado, estamos ali dentro. Vamos ressignificando” Sua ideia nos contos não foi mostrar as mulheres como vítimas, mas como pessoas que continuam e que vivem vidas que florescem apesar dos pesares. “A gente vive nessa quesa com telhado quebrado e vai consertando as goteiras.”

Os livros das duas autoras, de contos, trazem vozes diversas de mulheres e passam por questões de gênero e raça – caras às escritoras. Jarid lembrou que foi só aos 19 que descobriu que mulheres negras também escreviam. “Quando ouvi Conceição Evaristo, descobri que não estava condenada ao silêncio.”

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