Com 11 milhões de seguidores no Facebook e 12 milhões no Instagram, Kéfera Buchmann é uma das rainhas da internet no Brasil. Seu canal no YouTube – seus vídeos – lhe deram projeção, mas Kéfera, como é conhecida, não é uma vlogueira que está se aventurando no cinema. Na quinta, 9, estreou seu novo filme, Gosto Se Discute. Não é um veículo para ela. “O projeto já existia há anos, mas a produção tinha dificuldade para encontrar a atriz nessa faixa etária. Me viram no É Fada!, gostaram, fiz umas cenas com o Cássio (Gabus Mendes), deu química.”
Garota, em Curitiba, Kéfera via as novelas com Gabus Mendes. “Não podia imaginar que um dia ia formar dupla com ele.” Atriz, ela é. Sempre foi. Essa coisa de YouTube começou em 2010. Deu certo. Seus vídeos dispararam, mas a vocação sempre foi representar. “Cheguei a participar com cinco peças no Festival de Teatro de Curitiba, fazendo os mais variados papéis.” Ao diretor André Pellenz, confessou – “O YouTube está cheio de meus testes de elenco, tudo o que fiz.” Só esperava ser ‘descoberta’. Foi.
Ela conversa com o repórter num estúdio em Pinheiros. Está sendo – a sexta-feira, 10 – um típico dia de Kéfera. Chegou de Porto Alegre, onde foi lançar o filme, e a assessora a apanhou no aeroporto. Trouxe-a para esse local, onde fez fotos para a capa de uma revista, depois mais fotos para a reportagem e a entrevista. E a tarde ia continuar – com os ensaios do próximo filme, que começa a rodar dia 22, dirigida por Pedro Amorim, De Novo, Não!. Em Gosto Se Discute, ela faz uma profissional – a interventora nomeada pelo banco para tornar rentável um restaurante cujo chef está endividado. Uma mulher no mercado de trabalho, sofrendo a concorrência masculina. Uma mulher… Empoderada?
Kéfera acha lindo o que está ocorrendo no Brasil e no mundo – as mulheres conquistando seu espaço, lutando por igualdade, denunciando o assédio. “Comigo ocorreu uma coisa terrível. Um grupo de homens que tinha uma homepage se irritou porque eu falo de sexo, digo palavrão. Começaram a me ameaçar. É uma coisa nojenta até de dizer, mas esses caras me ameaçavam com um estupro coletivo. Falei com meu advogado, ganhei apoio nas redes, a page deles desapareceu. Olha o machismo, essa gente não tem estrutura, sente-se ameaçada.”
O novo filme dá conta da Kéfera mulher. Ela tem direito até a uma cena de sexo, na cozinha do restaurante. Cássio Gabus Mendes a pega no colo, põe na mesa e… É só cinema. Diz que o namorado – e ainda cita Tácyo, do mercado financeiro, oficializado na rede como ‘ex’ – lhe dá a maior força. Já que o filme fala de gastronomia, restaurante, Kéfera, tão glamourosa – olhem a foto -, faz o tipo que cozinha? “Adoro, mas quando vim de Curitiba para São Paulo fiquei oito meses sem fogão. Não mandava instalar, tinha medo de que explodisse.” Comia muita porcaria, virou vegetariana – é coisa recente -, está se cuidando mais. “Cozinhar é bom, mas não sozinha. Tem de ter mais alguém.” Cozinhar para o maridinho? “Não necessariamente. Gosto de ser mimada. Quem não gosta de carinho? Tem de ter reciprocidade.” Ou seja, o cara tem de cozinhar para ela, também. “Claro, por que não?”
Como fenômeno da internet, como atriz, Kéfera tem tudo a ver com essa nova mulher. Diz que é ‘feminista’. “O feminicídio é uma prática que devemos combater, e isso só se faz com educação, esclarecimento. Muitas mulheres ainda têm a mentalidade machista e educam seus filhos dessa maneira, como se as mulheres tivessem de depender dos homens.” Kéfera também é escritora. Adora escrever. Seu sonho é transformar a ficção Querido, Dane-se em filme. É Fada! fez 1,85 milhão de espectadores. Quanto fará Gosto Se Discute? “Não creio que vá ser um filme de grande público. Vai ser lançado em menos salas (350), é baixo orçamento”, ela avalia. Mas é uma comédia romântica charmosa, o casal principal tem boa química. E, depois, André Pellenz faz a diferença. Dirigiu o primeiro Minha Mãe É Uma Peça e DPA – Detetives do Prédio Azul. Minha Mãe fez vários milhões de espectadores, mas era com Paulo Gustavo. DPA, neste ano difícil, somou 1,2 milhão de público. Gosto Se Discute vai chegar lá?
Qualidades não faltam. Pellenz inspirou-se no médico da mãe, que perdeu o paladar, e num momento que teve, de crise, como diretor de publicidade. Achava que estava escrevendo um drama. Saiu – tinha de ser – uma comédia. Rir para ele, e agora com Kéfera, é sempre o melhor remédio.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.