Globo leva ao ar 1ª cena de sexo gay da TV aberta, sem sexo

Está feita.

A primeira cena de sexo entre homossexuais da TV aberta, não exatamente com sexo, foi ao ar na noite desta terça, 12 de julho de 2016, em ‘Liberdade Liberdade’.

É o tenente Tolentino, personagem de Ricardo Pereira, homem bruto que se descobre atraído por André, intelectual refinado de Caio Blat, quem toma a iniciativa.

A sequência se abriu com a chegada de André ao quarto que mantém fora de casa, e ele encontra o outro deitado, acabrunhado por mais uma humilhação sofrida do intendente (Mateus Solano).

– O intendente passa a vida a me espezinhar, estou no meu limite_ diz o tenente.

– O intendente é um homem cruel, mas você tem amigos _ responde-lhe André.

– Não tenho um único amigo. Meu único amigo é você. Você, André, que é um homem sensível, você, que entende os mistérios da vida, as voltas que o mundo dá. As surpresas que a vida nos reserva.

– Surpresas sobre nós mesmos?, tenta esclarecer André.

– Sim. Como você mesmo disse um dia, “todos nós temos uma segunda natureza, que às vezes permanece oculta, mas não para sempre”. Não pra sempre.

Nisso, Tolentino vira-se para o amigo, fita-lhe nos olhos e parte para cima dele, com um beijo amassado, intenso, sem respiração, comovido como um desabafo. Surpreso com a atitude do outro, André empurra Tolentino e se afasta, assustado e tentado pelo gesto do amigo. Olhar fixo no parceiro, começa a se despir, gesto que Tolentino imediatamente imita. A câmera corta para os dois nus, inicialmente em pé, close na expressão de grande descoberta estampada no rosto de Caio Blat, misto de encantamento com um apetite sexual reprimido desde sempre. Ele vira-se de costas para o outro, que enlaça o parceiro com o braço. Corte para os dois deitados na cama, carícias, afagos e beijinhos de André no peito viril do companheiro, mais um quadro com o par em posição de conchinha.

Como prometeu o diretor Vinicius Coimbra, mais afeto do que sexo.

Delicada, a sequência mereceu trilha sonora do filme ‘Morte em Veneza’, uma referência do autor Mario Teixeira, como falou à reportagem, logo após a gravação da sequência, há dez dias.

Corte daqui, corte dali, dado o recado claro de que os dois foram efetivamente às vias de fato, ufa, um minuto de respiro para os nossos comerciais.

Nesse ínterim, o Twitter ferveu.

“Caio Blat e Ricardo Pereira deram um show de interpretação (coragem e verdade emprestadas aos personagens). E a direção foi delicada!”, postou o deputado Jean Willys, ativista LGBT.

Mônica Iozzi publicou, com a foto: “Lindíssima cena em #LiberdadeLiberdade hoje. Parabéns a Caio Blat, Ricardo Pereira e todos os envolvidos.”

Bastou um intervalo. E Tolentino volta à cena já vestido, deixando o quarto onde consumou sua “segunda natureza”, não mais oculta, proferindo, em seu sotaque luso: “Isso não devia ter acontecido!”

Não é à toa que “O Segredo de Brokeback Mountain” foi muito citado por autor e diretor desde o início da novela como parâmetro para o romance entre André e Tolentino. Ou o não romance que está por vir. O tenente vai sofrer por não se reconhecer gay. Ser homossexual, naqueles idos de 1808, era considerado crime de lesa majestade, com pena de morte certa. O conflito e a autocensura o levarão a buscar um casamento entre as prostitutas e a agredir uma delas até quase a morte.

Em tempo: a sequência toda durou 5 minutos e 13 segundos, uma eternidade em TV, ainda mais sem interrupção. Ou sem intervalo, como a gente diz.

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