Há três anos, o dramaturgo Euclydes Marinho apresentou uma sinopse à Globo sobre um presidente fictício que, apesar de mulherengo e chefe de família disfuncional, tinha a grande virtude de ser estritamente ético. A trama contaria, claro, com toda sorte de figuras que o Brasil está acostumado a ver na política: um senador que não quer largar o osso do poder, um ministro corrupto e deputados que compram falsos dossiês e articulam conspirações. Demorou, mas a emissora aprovou o projeto e, a partir desta terça-feira, às 23h30, exibe a minissérie “O Brado Retumbante”, com Domingos Montagner, novo (e raro) galã quarentão da TV, no papel do presidente fictício Paulo Ventura.

continua após a publicidade

“No Brasil, não temos o hábito de fazer tramas políticas. Sentia falta de uma história assim, mas demorou pra emplacar, por ser um tema delicado. A Globo pensou muito antes de exibir. É uma empresa visada e estamos em um governo do PT, que, em tese, é contra a Globo”, acredita o autor. “O projeto foi aprovado no fim de 2009, mas, como 2010 era ano eleitoral, não pudemos fazer. E, por problemas de grade de programação em 2011, a minissérie ficou só para 2012.”

Para evitar comparações e poder dizer a frase “qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência”, Euclydes e seus colaboradores – o colunista do Estado Nelson Motta, a roteirista Denise Bandeira e o autor Guilherme Fiuza (de “Meu Nome Não É Johnny”) – decidiram retratar, em oito capítulos, um Brasil inventado, em que o centro do poder é um palácio no Rio. Ventura, advogado sem pretensões políticas, é alçado a presidente da Câmara e acaba no posto mais alto dessa democracia após a morte do presidente e vice.

“Ele aceita ser presidente da Câmara porque é um sonhador, meio quixotesco, quer mudar a situação do país, mas não é um homem da política, não sabe fazer alianças e, como só tem 15 meses no poder, decide que seu lema será banir a corrupção”, explica Montagner.

continua após a publicidade

Por ser um cara comum, Ventura se aproxima do público, e a interpretação carregada que o ator estava acostumado no teatro (Montagner faz parte da Cia. La Mínima, de circo) ganhou um tom quase que documental. “Suavizei esse apego pelo poder, para torná-lo mais carismático, mas não me inspirei em ninguém”, garante. “Ele é só um cidadão de boa índole e emocionalmente frágil.”

Extremamente boa-praça, é compreensível que o público nem dê muita bola aos desvios de Sua Excelência, que até toca clarinete para espantar a tristeza: ser mulherengo e fazer sofrer a bela primeira-dama, Antônia (Maria Fernanda Cândido).

continua após a publicidade

“Com esse pequeno defeito, se fosse nos Estados Unidos, provavelmente ele estaria liquidado, mas aqui talvez seja algo mais leve”, diz Fiuza, coautor que, nas últimas semanas, destacou-se na TV por ser namorado de Narcisa Tamborindeguy, uma das “Mulheres Ricas”, da Band. Fiuza garante, entretanto, que não se trata aqui de um “presidente ideal”. “Ele é um anti-herói e, para humanizá-lo, fizemos com que ele cometesse deslizes éticos, como ter um hacker na equipe que, ilicitamente, vai investigar o ministro da Justiça. Vamos mostrar a ingenuidade e a frustração dele.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.