Gilberto Gil: Brasil pode vir a ser uma potência cultural

Ao abrir ontem, no Anhembi, em São Paulo, as conferências do Fórum Cultural Mundial, o ministro Gilberto Gil classificou a luta pela diversidade cultural no mundo como “uma guerra” e previu que a derrota nessa batalha pode significar “um nazismo mundial, uma hegemonia de uma ou duas nações mundiais”.

“O Brasil talvez não venha a ser uma potência econômica, no sentido clássico do termo. Talvez não venha a ser uma potência militar. Mas pode vir a ser uma potência cultural”, afirmou Gil, após discursar na abertura da Convenção Global. “E, quando eu digo futuro, não falo do século 22, mas daqui a 20, 30 anos”, ponderou.

O Fórum Cultural Mundial, segundo Gil, é “histórico” e pode se tornar uma ferramenta na batalha pela criação de um “território livre, sincrético”, onde os países possam fazer as suas “trocas afetivas, políticas, econômicas e culturais”. Também fez crítica às teses econômicas neoliberais, citando a Argentina como “exemplo do que um receituário obtuso pode produzir” .

Gil citou estudo da Oxfam, segundo o qual de cada dólar que os países industrializados mandam para os pobres e emergentes, como assistência, US$ 2 fazem o caminho inverso. Ao final de seu discurso, ele propôs às autoridades presentes a adoção de uma série de oito compromissos para mudar a situação.

Os discursos contra a “colonização cultural” dominaram em boa parte do dia. Carmen Poyato, representando o governo espanhol, defendeu um acordo mundial para uma tese de “desenvolvimento participativo”. Ruy César, do Mercado Cultural de Salvador, atacou a visão de que a cultura seja “um assunto de mercado”.

Na platéia, havia vários representantes do MinC, como o presidente da Funarte, Antonio Grassi, e o secretário-executivo do ministério, Juca Ferreira, além de diversos organismos da cultura internacional, como Didier Le Bret, subdiretor do setor de Cinema do Ministério das Relações Estrangeiras da França.

Gil divulga manifesto

Ontem também, o ministro Gil divulgou um Manifesto do Desenvolvimento ‘Culturalizado’, segundo chamou, com alguns pontos para adoção dos países participantes:

* Criação de políticas públicas para ampliar o acesso dos cidadãos aos direitos culturais, incluindo o fomento à produção, o estímulo à difusão de bens e serviços e a proteção do patrimônio.

* Promover espaços culturais diversos, de inclusão cultural e social.

* Defender a exclusão dos bens e serviços culturais dos acordos da liberalização comercial em curso na Organização Mundial de Comércio (OMC).

* Apoiar a Unesco em sua iniciativa de uma Convenção Internacional para a Proteção da Diversidade Cultural, prevista para a Conferência Geral de 2005.

* Contribuir para a criação de um sistema internacional de troca econômica.

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