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Gil e Caetano voltam a SP sob clima de comoção

Gilberto Gil e Caetano Veloso voltam a São Paulo neste fim de semana para seguirem com a turnê Dois Amigos, Um Século de Música. O mesmo show que já passou por dez países depois de estrear em Amsterdã, na Holanda, e render um DVD duplo, será apresentado nesta sexta (16) e sábado (17) na mesma casa em que fez sua primeira passagem por São Paulo, o Citibank Hall. O mesmo repertório, a mesma proposta de dois violões, mas sob um momento muito diferente.

Vai ser um dos mais comoventes shows em muitos anos por um clima que se arma naturalmente com a torcida pela recuperação plena de Gilberto Gil. Aos 74 anos, o baiano passa pelo momento mais delicado de saúde da sua vida, lutando para curar uma insuficiência renal, conforme divulga sua assessoria de imprensa. Já foi internado duas vezes no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, e cancelou uma apresentação no Rio, fato que preocupou seus fãs.

O show é técnica e emocionalmente desgastante. Gil canta e toca até mais do que o parceiro, Caetano, e parece ignorar os novos limites de sua voz, impostos na última década, jogando-se em cada interpretação como se fosse a primeira e a última. Apesar da exigência do formato, que coloca nos dois as luzes e a responsabilidade por tudo o que acontecer, Gil está calmo e preparado, segundo pessoas próximas a ele. “Ele está muito melhor. O show do Rio foi cancelado porque estava com muitas náuseas por causa dos medicamentos, que são muito fortes. Mas parece que agora ajustou. Os médicos dizem que o tratamento demora seis meses. Estamos acreditando que ele vai ficar bem”, diz Paula Lavigne, empresária e mulher de Caetano Veloso.

Inspirado na bisneta

Outras fontes próximas, que preferem não ser identificadas, vão pelo mesmo caminho. Gil está bem, com vontade de fazer o show. Há duas semanas, esteve em um shopping no Rio para prestigiar um evento que teve como anfitriã sua filha, a apresentadora de TV Bela Gil. Antes disso, já havia aparecido em um vídeo divulgado por outra filha, Preta, tocando ao violão uma nova música inspirada na chegada da bisneta, Sol de Maria. Um momento de comoção que deixou a família às lágrimas enquanto ouvia Gil cantando com um aspecto físico visivelmente abatido e inchado pelos medicamentos. Outra aparição que deixou claro seu momento de recuperação foi sua participação na abertura dos Jogos Olímpicos, no Rio. Ele chegou a ensaiar para a festa, um dia depois de receber alta no Sírio Libanês, em 3 de julho. Um assessor próximo diz que entrevistas, por enquanto, estão fora de negociação: “Ele não está bem para dar entrevistas com esse tratamento todo. Não tem esse ânimo. Imagine que vão perguntar de política, de tudo o que perguntam quando falam com ele. Gil não está no momento de falar.”

O compositor quer tocar e, se tudo correr como o script da turnê manda, fará isso por aproximadamente duas horas ao lado de Caetano como se sobrevoasse a própria carreira. O repertório faz uma espécie de linha do tempo dos baianos, lado a lado, vivendo a mesma história cada um com a trilha sonora que criou para si. Abrem visitando o exílio londrino de 1972, que deprimiu mais Caetano do que Gil, com Back in Bahia. Voltam a 1968 com Tropicália, lembrando o barulho que fizeram quando Gil quis juntar “os pífanos de Caruaru às guitarras dos Beatles”. Chegam ao pai João Gilberto com É Luxo Só, de 1959, o violão que os fez querer não ser outra coisa senão compositores. E voltam até o passado mais recente com As Camélias do Quilombo do Leblon, música mais fresca, que fizeram na noite anterior ao primeiro show de São Paulo, em agosto de 2015.

Gil canta para a ex-mulher Sandra Gadelha quando mostra Drão, de 1982; lembra da lisergia dos anos 1970 com Expresso 2222, revisita a primeira grande saga popular com Domingo no Parque, de 1967; e canta tudo o que chama de crença já que não acredita em Deus (“é uma criação dos homens”, costuma dizer) com Andar com Fé. Gil e Caetano escancaram ali no palco suas biografias nas letras, nas músicas e na dor de suas vozes.

GIL E CAETANO

Citibank Hall. Av. das Nações Unidas, 17.955; telefone 4003-5588. 6ª (16) e sáb. (17).

De R$ 100 a R$ 560

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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