O ministro da Cultura Gilberto Gil deu entrevista ao programa do serviço mundial da BBC, The World Today, sobre o segredo de fazer um grande cover. Apresentado como ?um dos mais influentes homens da história da música pop sul-americana?, Gil falou sobre sua clássica versão de No Woman no Cry, de Bob Marley.
?Minha primeira reação ao ouvir a canção foi dizer ?uau?, que som, que melodia, que música original. Tudo me surpreendeu?, disse Gil à rede de comunicação britânica. ?Depois, ouvindo mais profundamente e conhecendo o significado das palavras e tudo, decidi escrever a versão em português.?
Ele explicou na entrevista que, na época em que compôs a versão, o Brasil vivia sob ?uma forte ditadura militar?, em que ?pessoas foram presas, torturadas e exiladas?. ?Eu mesmo fui exilado e vim morar em Londres?, lembrou o ministro.
Aproveitando que a música original tinha o tom de protesto, Gil contou que resolveu então incluir referências ao Brasil na letra, como no trecho em que cita a frase ?Na grama do Aterro sob o sol?. ?Passávamos por momentos muito difíceis, com muitas pessoas sendo torturadas, mortas e expulsas do Brasil? prosseguiu.
?A música é sobre sofrimento mas, ao mesmo tempo, fala de compartilhar felicidade a despeito das adversidades. É uma canção social, uma música de protesto. Brasileiros em geral, especialmente os negros, têm grande identificação com Marley?, contou Gil. Segundo ele, essa seria a primeira grande ligação entre as duas versões.
No entanto, completou, a força delas estaria no ritmo de reggae. ?A conotação social vem em segundo plano. Eu nunca fui um idealista, nunca fui um dos que acreditam que podemos realmente mudar o mundo. Nós tentamos, mas ele continua a ser o que é?, finalizou.
