Após interpretar o inescrupuloso Fred na novela “Passione”, na TV Globo, o ator Reynaldo Gianecchini volta a se dedicar à vilania, mas desta vez no teatro. O ator estreia hoje na peça “Cruel”, ao lado de Erik Marmo e Maria Manoella, no Teatro Faap, em São Paulo. O espetáculo, do dramaturgo sueco August Strindberg (1849-1912), é uma trama épica que mistura drama e suspense. Trata-se de um triângulo amoroso envolvendo Augusto (Reynaldo Gianecchini), Tekla (Maria Manoella) e Adolfo (Erik Marmo).
Após ser abandonado, Gustavo reencontra a ex-mulher Tekla, uma sedutora e sagaz escritora, e seu novo parceiro, Adolfo, durante uma temporada de férias. Ele decide então destruir a relação do novo casal. A partir daí, Gustavo envolve os dois em um jogo no qual predomina a violência psicológica. “Ele é assumidamente o mais cruel dos três. Tem como objetivo se vingar, destruir. Ele é um cara que foi destruído e sofreu muito por causa da ex-mulher e da relação que tinha com ela”, afirmou Gianecchini.
Vitimada pela articulação de Gustavo, Tekla acaba se envolvendo com o vilão. “A Tekla era uma mulher que, na época em que se desenrola a história, em 1890, casou, já descasou e casou de novo. O que me encanta na personagem é a dignidade, a modernidade e a liberdade dela. Acho que ela é uma mulher a frente de seu tempo. Uma apaixonada, uma mulher que vive intensamente as paixões”, afirmou Maria Manoella, destaque na cena teatral paulistana.
Para o ator Erik Marmo, a volta de Gustavo deixa o vulnerável Adolfo ainda mais inseguro. “O fato da Tekla ter abandonado o primeiro marido faz com que o Adolfo fique mais desconfiado. Com receio de que a qualquer momento possa acontecer de novo. Ele se volta completamente para ela como sendo a salvadora dele. Mas é completamente inseguro nesta relação. E obviamente sofre muito por causa disto e o Gustavo chega pra plantar várias ideias na cabeça dele.”
“O que eu acho muito interessante é o formato da peça. Os três personagens têm igual peso dentro da trama. É um formato difícil de se achar. O jogo é a coisa mais importante desta peça. Eu tive que buscar dentro de mim uma loucura, uma dor, que todos nós temos e não se sabe exatamente da onde vem, mas se a gente procurar direitinho a gente acha”, afirmou o intérprete de Adolfo.
Adaptação
O espetáculo tem direção e adaptação de Elias Andreato, que já conhecia a obra de Strindberg. Em 1984, atuou na peça “Senhorita Júlia”, do dramaturgo sueco. “O que me interessou no texto do Strindberg foi essa relação amorosa dos três personagens. Eu tentei deixar o que seria mais importante e procurei ser o mais direto possível. Sem rebuscamentos”, disse o diretor de “Cruel”, que tem o nome original de “Os Credores”.
Sempre bem-humorado, Andreato explicou a decisão de mudar o nome do espetáculo. “Como o Strindberg já morreu, eu tomei a liberdade de mudar o título mesmo correndo o risco de ser amaldiçoado por muitos. Acredito que no país que a gente vive apresentar uma peça chamada ‘Os Credores’ não teria muito interesse do público. E cruel é a essência de todos estes personagens e da obra de Strindberg.”
Apesar de escrita em 1888, os atores acreditam que a peça permanece atual. “É impressionante como continua moderna. Poderia perfeitamente ocorrer nos dias de hoje. E a adaptação do Elias é muito boa, não tem nada empolado’, afirmou Gianecchini, que comparou a construção do vilão na TV e no teatro. “Na televisão você não consegue se aprofundar muito, o personagem ainda está sendo construído dentro daquela rapidez que é a televisão. Já no teatro você vai se aprofundar mais. O teatro tem um estudo que a televisão não tem”, diz. “Mas a televisão também é um exercício bacana”, completa.
No início do mês, Gianecchini passou por uma cirurgia de hérnia inguinal (na região da virilha). “Foi uma cirurgia simples. Eu tinha que operar de qualquer jeito. E não queria deixar para depois da estreia e então eu combinei de operar quando tivesse numa fase legal. Fiquei só três dias afastado e depois voltei a ensaiar.” “Cruel” inaugura um horário alternativo no teatro Faap, às segundas e terças-feiras. Depois da temporada na capital paulista, o espetáculo seguirá para as cidades de Santos e Campinas.
Cruel – Teatro Faap (Rua Alagoas, 903 – Higienópolis). Segundas e terças, às 21h. Duração: 70 minutos. Recomendação: 14 anos. R$ 40. Estreia dia 27/06. Até 04/10.
