Vem de longe o desejo do diretor João Jardim de realizar o filme que agora se concretiza como Getúlio – Últimos Dias. Anos atrás, ele participou de uma minissérie da Globo, Agosto, que tratava justamente deste período. Desde então, o filme estava no imaginário de Jardim. Terminou atingindo o formato atual. Ele sabe que está colocando a mão num vespeiro. A persona de Getúlio Vargas sempre acirra controvérsias e desperta paixões. O pai do povo, o caudilho, o ditador. Existem muitos Getúlios. O que ele retrata é o Getúlio constitucionalista, que não quis rasgar a Constituição pela terceira vez, como fizera durante a própria ditadura. E é, também, um pai, visto pelo olhar da filha, Alzira.
Getúlio é Tony Ramos, que João Jardim sempre quis ter no papel. Há quatro anos, quando lhe propôs o personagem, o ator tomou um susto. “Mas eu não sou nem um pouco parecido com ele!” Leon Cakoff, o criador da Mostra de São Paulo, que fez o papel em O País dos Tenentes, de João Batista de Andrade, era. Foi então que Jardim mostrou a Tony Ramos uma foto antiga do presidente. Parecia com ele. Mesmo assim, a produção não força a semelhança. A ideia não é transformar Tony Ramos em Getúlio. Mas ele está próximo. Uma prótese dotou-o não apenas de barriga. O roteiro, a prótese, tudo ajuda, mas Tony Ramos precisou criar o ‘seu’ Getúlio.
Neste momento em que o presidente deixa pela primeira e última vez, em 19 dias, o Catete, ele está desmoronando, como seu governo. “Ninguém escreve ao coronel”, George Moura lembra Gabriel García Márquez. O Getúlio alquebrado pisa duro, marcial, para mostrar que está no comando. Ele não fala, ou fala com a linguagem do corpo. Nenhuma vez Tony Ramos se movimenta exatamente igual. Você sente a tensão. Mais tarde, neste mesmo dia, à noite, outra cena será filmada neste mesmo jardim. Alzira Vargas, interpretada por Drica Morais, vai olhar para as janelas iluminadas do palácio, e lá dentro seu pai estará realizando a última reunião do gabinete.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.