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Geraldo de Barros por inteiro em exposição

Há exatos 70 anos, em 1946, o fotógrafo, pintor, artista gráfico e designer Geraldo de Barros (1923-1998) construiu a própria câmera e fez sua primeira foto experimental – interferências no negativo, efeitos de sobreposição e solarização – que lhe valeram o reconhecimento internacional. Não só como fotógrafo, evoque-se. Um dos principais nomes do primeiro grupo de arte concreta brasileira, o Ruptura (1952), ele foi convidado para mostras históricas lá fora, participando, entre outras, da Bienal de Veneza (de 1986) com uma série referencial em sua obra, Jogos de Dados. Parte dela está em exposição na nova sede da Galeria Luciana Brito, que por si já vale uma visita. É uma belíssima casa tombada pelo Patrimônio, um projeto de Rino Levi com jardins desenhados por Burle Marx.

A exposição é uma pequena retrospectiva da obra do artista. Tem fotografias da época em que esteve ligado ao pioneiro Foto Cine Clube Bandeirante, nos anos 1940 e 1950, pinturas de seu período pop, quando integrou o grupo Rex (1960), projetos de inspiração concreta, serigrafias feitas a partir da série Jogos de Dados (cópias de 10 dos 55 trabalhos que ele doou à Unicamp) e móveis – ele criou duas fábricas que fazem parte da história do design moderno brasileiro, a Unilabor (em 1954) e a Hobjeto (em 1964). Enfim, Geraldo de Barros era a síntese da escola alemã Bauhaus (1919-1933) num homem só.

O mundo não demorou a descobrir isso. O artista está presente no acervo dos principais museus do mundo (MoMA, Tate, Malba) e já tem duas exposições marcadas para o próximo ano, uma em Chicago e outra em Frankfurt. Também em março de 2017 a editora francesa Chose Commune publica o livro Sobras, que reúne a derradeira série criada pelo fotógrafo dois anos antes de sua morte – uma radical releitura da própria obra fotográfica dos anos 1950 feita por meio de collages, organizadas com a ajuda de uma assistente e exibidas pela primeira vez em 1998, no Ludwig Museum de Colônia, Alemanha.

Algumas imagens da série também estão expostas na mostra Geraldo Industrial, na Galeria Luciana Brito. Nela destacam-se ainda móveis desenhados pelo artista, que desejava criar no Brasil dos anos 1950 e 1960 um design moderno e acessível ao bolso da classe média – e feito com madeira de lei, como a cadeira de jacarandá que domina a sala onde estão as serigrafias da série Jogos de Dados. Fabiana de Barros, uma das filhas do artista, revela que algumas empresas procuraram a família para uma edição póstuma do mobiliário desenhado por Geraldo. “A Dpot (empresa criada em 1969, pioneira em reedições de móveis) fez uma edição limitada de cinco peças”, conta.

O público poderá acompanhar a linha do tempo nas paredes da galeria, pela primeira vez com todos os espaços ocupados. A marchande Luciana Brito já organizou quatro exposições de Geraldo de Barros, patrocinando alguns dos sete livros publicados sobre ele.

Amigo do suíço Max Bill, um dos incentivadores da abstração no Brasil, Geraldo trabalhou incansavelmente durante toda a sua vida. Nem mesmo o acidente vascular cerebral que o atingiu em 1983 conseguiu paralisar sua criação. A série Jogos de Dados, feita originalmente em laminado plástico, é a prova mais incisiva dessa maestria.

GERALDO INDUSTRIAL

Galeria Luciana Brito. Av. Nove de Julho, 5162, tel. 3842-0634. 3ª a 6ª,10h/ 19h. Até dia 12/1/2017. Abertura neste sábado, 5, 12h/ 18h.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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