Gal Gadot teve uma passagem triunfal por São Paulo. Veio acompanhada da diretora Patty Jenkins, para falar sobre o segundo filme da franquia “Mulher Maravilha”, que estreia só em meados do ano que vem. Seu painel foi um dos mais concorridos da Comic Con, que terminou neste domingo, 8, no pavilhão da São Paulo Expo. O novo filme chama-se “Wonder Woman 1984” – alguma coisa a ver com a data emblemática do romance (ex) futurista de George Orwell? Patty não deixa por menos – “Orwell escreveu sobre o que achava que seria 1984; o filme é sobre como eu acho que foi.” Um pesadelo? “Pode-se dizer que sim. É só retroceder no tempo e ver o que se passou naquele ano. Escolhi um recorte”, ela explica.

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“Escolhemos”, diz Gal, com quem o repórter conversa em separado. “O cinema é uma arte colaborativa, e Patty e eu estivemos juntas desde o início. Nos identificamos muito. Em visão de mundo, em relação à personagem. Deu super certo.” E o 2? “Não podemos adiantar muita coisa, mas posso dizer que temos dois novos vilões incríveis e que foi demais rodar o filme de época. Os anos 1980 foram muito coloridos, muito intensos. Numa cena tínhamos cerca de 2 mil figurantes vestidos como naquela época, cada um com seu figurino. A sensação era de estar numa máquina de tempo, revivendo o passado.” Gal Gadot, casada, mãe de duas filhas. “Adoro o que faço, acho que a Mulher Maravilha é uma inspiração para mulheres de todo o mundo, mas a família vem em primeiro lugar. Amo minhas filhas, meu marido.”

Gal, em hebreu, quer dizer onda. E Gadot, a margem do rio. Ela brinca. “Deveriam ter me chamado para fazer Aquawoman, mas já que a personagem não existe cá estou como wonder woman.” O que representa a água para ela? “Você está brincando? Água é vida. Ninguém vive sem água” (e ela toma um gole da garrafa que tem na mão). “É uma preocupação planetária. Precisamos preservar nossas fontes”, adverte. Gal surgiu no universo DC como Mulher Maravilha em “A Origem da Justiça”, de Zach Snyder. Repetiu a personagem em “A Liga da Justiça”, que Snyder, aturdido pelo suicídio da filha, não chegou a concluir, sendo substituído por Joss Whedon (mas o conceito era dele). No mesmo ano, estourou planetariamente como a “Mulher Maravilha”, no blockbuster dirigido por Patty Jenkins. Em 2017, quando a personagem ganhou um blockbuster só dela – e Gal, seu primeiro filme como protagonista -, algo estava se passado. Espocaram na indústria as denúncias de assédio, no bojo do movimento #MeToo. Difícil dizer se foi o movimento ou o filme que empoderou as mulheres, mas ambos, com certeza, contribuíram para uma nova atitude feminina, e não apenas na indústria.

Logo em seguida, em 2018, veio o Pantera Negra e um novo momento de afirmação dos negros na indústria de Hollywood, com Oscars e tudo. Essas coisas não acontecem por acaso. Não são meras coincidências. Está tudo relacionado. “Acho que é um movimento cósmico, espiritual”, avalia Gal. “O que mais tenho ouvido é que Diana/Mulher Maravilha é uma inspiração. Comento com meu marido que é muito bom fazer parte de um movimento pró-valorização das pessoas.” Na coletiva de “Mulher Maravilha 1984”, num hotel de luxo do bairro Panamby, alguém relatou a Gal que o Brasil, infelizmente, é recordista de violência contra mulheres, e não apenas. “Ninguém merece viver com medo. Todos temos direitos, e a dignidade das mulheres é um direito.” O repórter não se furta a lembrar que, antes de ser Diana/Wonder Woman, super-heroína, deusa, ela foi Gisele, na série “Velozes e Furiosos”. Não poderiam ser personagens mais distintas. “Como atriz, eu tenho de estar apta a interpretar personagens diversas.” Gisele estava mais para objeto, no universo masculino de Fast and Furious. “Nãããooo. Era uma mulher forte, independente, que fazia suas escolhas. Não tinha superpoderes, mas eles são só uma metáfora para essa nova atitude das mulheres.”

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A própria Gal gosta de dizer que sempre foi independente. Nascida e criada em Israel, o avô foi prisioneiro no campo de Auschwitz e sobreviveu para contar a história. Criou-se num ambiente “bem judeu”, numa família “bem israelense”. Foi Miss Israel e participou do concurso Miss Universo, em 2004. Seguiu o figurino – maiô, traje típico. Três anos mais tarde, o uniforme era outro e ela posou para uma série de fotos da revista Maxim, num ensaio intitulado Mulheres do Exército Israelense. Considerando-se a fisicalidade implícita nas cenas de ação de Mulher Maravilha, o fato de haver sido instrutora, no Exército, deve ter facilitado bastante sua vida. “Sem dúvida, mas o que o Exército me deu, de mais positivo, foi outra coisa. No Exército, a gente aprende a pegar junto, a trabalhar como grupo. Aprende disciplina e respeito. Estudei biologia e relações internacionais, e isso abriu muito minha cabeça, meu olhar para o mundo, mas foi muito importante essa consciência de pertencer a um grupo em que as pessoas dependem tanto umas das outras. Isso me aparelhou para o cinema, que é colaborativo, mas no qual o grupo serve à visão de um diretor (ou diretora, como Patty).”

Sua vida mudou muito, agora que é superstar? “Nada que afete minha vida familiar. Preservo muito minha intimidade.” Ela pode tentar preservar-se, mas o entusiasmo dos fãs só aumenta. A CCXP foi prova disso. Seu público chegou às raias da loucura. O que se pode esperar de “Mulher Maravilha 1984”? “Patty e eu não quisemos fazer somente um filme maior, e mais barulhento. A personagem veio para ficar e não quisemos comprometer o que Diana/Wonder Woman já estabeleceu no primeiro filme.” O 2 tem muita ação, sim, você pode ver no teaser que já está circulando. Em sites especializados, as apostas indicam que se passa nos anos finais da Guerra Fria, nos estertores do império soviético. “Não vou entrar em detalhes, mas temos atores geniais fazendo nossos vilões. Pedro Pascal e Kristen Wiig são grandes e, como no caso de Diana, os papéis são consistentes. Não é só bate e arrebenta. Existe uma vida neles.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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