No ano passado, Gaga – O Amor Pela Dança (nada a ver com Lady Gaga) ganhou o prêmio do público de documentário na Mostra. No começo da semana, o diretor israelense Tomer Heymann esteve em São Paulo para promover o lançamento do filme. Gaga estreou na quinta, 6. Você não precisa ser um amante da dança para vivenciar a experiência de Gaga. O próprio diretor não era.
“Nasci e cresci num kibutz em Israel. Meu pai queria que eu fosse fazendeiro, como ele. Causei-lhe duas dores. Fui para Tel-Aviv e saí do armário. Ele terminou me apoiando.” Em Tel-Aviv, Heymann ligou-se ao movimento artístico. Uma amiga o chamou para ver um espetáculo de dança, da companhia Batsheva. Insistiu uma, duas, várias vezes. Um dia lhe apresentou o ultimato. “Se você não for, nunca mais vou insistir.” Ele foi. Teve um choque.
“Foi a coisa mais extraordinária que vi.” Anos depois, já cineasta, Heymann tentou se aproximar, em Nova York, do coreógrafo do Batsheva, Ohad Naharin. Propôs-lhe fazer um filme. E dessa vez foi Naharin que resistiu. “Ele foi sempre muito reservado e controlador. Não queria interferência em seu trabalho. Foi meu irmão quem o convenceu.” Você pode imaginar que, a partir daí, as coisas foram mais fáceis. Nada disso. Heymann começou um filme. Não gostou. Começou outro, também não gostou. Foram diversas tentativas, muitos filmes abandonados pelo caminho, e que ele guarda numa espécie de arquivo pessoal, sem a menor vontade de mostrar a ninguém.
“O desafio sempre foi dar conta do homem, do artista, da obra.” Naharin é um artista exigente. Já comprou briga com o Estado de Israel por conta de uma coreografia. É um marido apaixonado. Gaga é seu estilo único. “Na escola de dança de Ohad os bailarinos não dançam diante de espelhos. Seu método é totalmente íntimo e imprevisível. Por mais perfeccionista que possa ser, sua meta não é a perfeição. No Gaga não existe aparência. O movimento tem de vir de dentro.” De cara, há uma coisa linda – a bailarina tem de cair.
É uma entrega. Pressupõe confiança. Gaga já foi definido – por Variety – como o melhor filme sobre dança desde Pina, mas para Heymann seu filme é o anti-Pina. “Compreendo o partido de Wim Wenders, afinal, ela morreu. Mas eu queria mais Pina Bausch. Gaga é sobre a alma de Ohad Naharin.” É belíssimo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.