Poucos minutos antes de começar a entrevista com Gabriela Alves, a atriz escova com os dedos as longas madeixas vermelhas, contrai os lábios para espalhar bem o batom cor de sangue e se espreguiça como uma felina em uma “chaise longue” ao afiar as garras carmim. Gabriela está mais do que à vontade na pele da maliciosa Zulema da novela “Marisol”, onde contracena com Alexandre Frota. Interpretar essa personagem, uma mistura de Jessica Rabbit com Rita Hayworth decadente, que destila veneno a cada gesto, tem sido um enorme prazer para a atriz. “Ela é paixão e Exu. Um mulherão fatal, mas com muita ironia”, sussurra.

Gabriela fala compulsivamente ao esmiuçar as características da vilã da trama mexicana do SBT. Segundo a atriz, o maniqueísmo do papel escrito por Inês Rodena fez com que ela percebesse que o extremismo seria o atalho para dar o tom exato da dona de um bar noturno, uma espécie de cabaré que serve de palco para Zulema soltar a voz rouca. “Só tento tomar cuidado para não virar um dramalhão. Estou apenas brincando com o humor”, avisa.

Perua emplumada

Mas não foi só o glamour da vilã que encantou a atriz ao ser convidada por Sílvio Santos para encarnar o papel. A personalidade fria, ditadora e arbitrária de Zulema, somada ao estereótipo de uma perua sufocada em plumas, foi o principal atrativo para Gabriela. “Ela é um personagem de ‘cartoon’, que fala sorrindo: ‘Vou te matar, querido'”, diverte-se, às gargalhadas.

Em seguida, Gabriela esboça apenas a metade de um sorriso ao explicar porque durante tantas vezes permanece um longo período distante da telinha. “Minha carreira tem um desenho muito louco porque nunca me preocupei em fazer sucesso. Sempre quis me expressar de diversas formas”, explica a carioca. Aos 30 anos, a atriz relembra as várias temporadas em que morou em Nova Iorque, estudando canto, dança e roteiro para cinema. A primeira vez que morou por lá foi dos 15 aos 20 anos. Depois foi para a Espanha aprender dança de salão e flamenco. Em seguida, durante mais de três anos, Gabriela morou algumas vezes em Nova Iorque, entres idas e vindas ao Brasil.

Nestes intervalos em que voltava, atuou em sete novelas e diversas produções. Sua estréia na tevê foi aos três anos, vivendo o anjinho da asa quebrada, no “Sítio do Pica-pau Amarelo”, em 1975. Depois, participou como figurante da estréia da mãe, a atriz Tânia Alves, no caso especial “Caixa-forte”, de Silvio de Abreu, em 1977. A estréia mesmo em novelas veio um pouco mais tarde, aos 20 anos, interpretando a Salete, em “Despedida de Solteiro”, de Walter Negrão, em 1992. Depois fez a Glorinha, irmã do Tonho da Lua, de Marcos Frota, na trama “Mulheres de Areia”, de Ivani Ribeiro, em 1993. “Esse foi o grande papel da minha carreira”, frisa. Ainda na Globo, em 1994, Gabriela fez a Pitanga da novela “Tropicaliente”, também de Walter Negrão e, no ano seguinte, foi para a extinta Manchete viver a Sacramento em “Tocaia Grande”, de Walter Avancini. Em 1996, voltou para a Globo como a Assunção, em “Salsa e Merengue”, de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa.

Projetos

Depois das sucessivas novelas, Gabriela embarcou para mais uma temporada nos Estados Unidos e assim que voltou, em 1998, aceitou o convite da Record para interpretar a advogada Érica, em “Estrela de Fogo”. Ainda na emissora, a atriz fez o papel de uma capitã de pesca, a Marijô, na novela “Vidas Cruzadas”, em 2000. “Aprendi muito contracenando com o Gianfrancesco Guarnieri”, suspira.

Mesmo absorvida pelo intenso trabalho na tevê, Gabriela não se abstém dos seus projetos teatrais. Todos conduzidos pela produtora que fundou assim que voltou “definitivamente” para o Brasil, há quatro anos, a Social Clube Entretenimento e Arte. No momento, além de enfeitiçada pela voluptuosa Zulema, a atriz produz o espetáculo “Morrer Como Quem Beija”, de Fernando Cardoso, inspirado na vida e na obra da poeta portuguesa Florbela Espanca, uma espécie de Fernando Pessoa de saias. “Será um mergulho multimídia no inconsciente dessa mulher que tanto me emociona”, adianta.

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