Frozen já é o segundo maior sucesso da Disney

Há exatamente dez anos, num encontro com o repórter por ocasião do lançamento de Procurando Nemo, o produtor John Lasseter – da Pixar – disse que não havia nada mais difícil do que fazer animação com água. Sem as novas tecnologias, e programas especiais criados no computador, ele estimava que Nemo seria só uma tentativa rudimentar. Lasseter agora produz o novo desenho da Disney, produto da vitoriosa junção dos dois estúdios. Transforma água em gelo: Frozen – Uma Aventura Congelante pode ser mais Disney que Pixar, ou seja, uma narrativa convencional, mas a beleza dos cristais de neve não é somente um deslumbramento para os olhos. Foi também um considerável desafio técnico.

A história, mesmo que não seja uma adaptação, evoca personagens como a mítica Rainha da Neve dos contos de Hans Christian Anderson. É a história de duas irmãs, e uma nasceu com um dom, ou uma maldição. Com suas mãos delicadas ela consegue transformar tudo em gelo, desde criança. Chega quase a matar a irmã, por causa disso. Seu nome é Elsa, e justamente para tentar controlar sua capacidade de destruir, ela se isola. A irmã é Ana. Cresce carente, por conta desse isolamento que não entende. Quando os pais morrem e Elsa vai ser entronizada, surge esse estranho que imediatamente ganha o coração de Ana. Mas quando ela anuncia que quer se casar, Elsa, num rompante de fúria, despeja o eterno inverno sobre o reino.

Ela foge – e Ana, deixando o estranho prometido à frente do seu povo, parte numa jornada para resgatá-la. Ganha ajuda – de um rústico fabricante de gelo, que possui uma rena falante, e do boneco de neve dublado por Fábio Porchat na versão brasileira. Quem acompanha a história da Pixar sabe da importância que Lasseter e parceiros – os diretores, aqui, são Chris Buck e Jennifer Lee – conferem ao roteiro. Ele já chegou a dizer que, numa animação, qualquer animação, a tecnologia é o de menos. O que importa é a história. A de Frozen é Disney no que tem de mais tradicional – uma heroína que precisa vencer a adversidade, os coadjuvantes simpáticos, sejam bichos ou brinquedos. Já que existe uma princesa ambivalente – capaz de fazer o mal, mesmo sem querer -, a novidade é o príncipe mau caráter, mas isso você só vai descobrir no desenvolvimento da trama.

Frozen estreia hoje precedido de um recorde e tanto. Com US$ 500 milhões já arrecadados, é o segundo maior sucesso da Disney, atrás somente de O Rei Leão. É a prova de que velhos conceitos disneynianos seguem valendo. Vem do velho Walt, que acreditava nos bons sentimentos – embora em animações clássicas como Branca de Neve e Bambi, ou Dumbo, o embalasse numa crueldade no limite do terror. Nesse delicado universo feminino, só há um homem ‘do bem’. Os restantes só pensam em poder. Matam, por ele, se for necessário e é dessa maneira que a animação, com sua ferramenta de fantasia, prepara no imaginário da criança a sua inclusão no mundo adulto. Tudo é muito bonito – o visual, a ideia de que só o amor é capaz de construir, derretendo corações gelados. As pessoas sacrificam-se em Frozen. Não há barra de gelo que resista a uma lágrima sincera.

Tudo isso é lindo, mas existem também os percalços. Há décadas as animações da Disney são embaladas em canções que, invariavelmente, ganham o Oscar. Só que Frozen radicaliza e incorpora tantas canções que vira um musical. Alguns números são bons – como aquele em que Elsa descobre sua liberdade e o prazer do isolamento, e que vira a vitrine da arte de fazer gelo. Mas há cantoria demais, e em dois ou três momentos talvez você preferisse ver a ação só como drama, sem tanta música. O programa inclui um regalo – o curta Hora de Viajar, de Mauren MacMullan, que comemora os 85 anos de Mickey e já está indicado para concorrer ao Oscar da categoria. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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