Freira ilumina peça de estreia da 72ª Mostra Macunaíma

Já tem padre cantor, padre ator e ator que interpreta uma freira nada católica que sonhava em abrir um orfanato. Mas a fé levou Carliene Correia Tosta, 36 anos, a virar freira. E, depois, iluminadora de peças de teatro. Irmã Catarina, como hoje é conhecida, será a responsável literalmente pela iluminação da peça “O Homem do Princípio ao Fim”, de Millôr Fernandes, que abrirá hoje a Mostra Macunaíma, em São Paulo, na qual serão apresentadas ao longo do mês 56 peças dos alunos da escola de teatro.

Jovem, católica praticante, ela namorava quando conheceu um grupo de irmãs da congregação Mãe do Santíssimo Sacramento, freiras franciscanas que vivem na estância turística de São Roque, de pouco mais de 70 mil habitantes, a 62 quilômetros da cidade de São Paulo. O que a atraiu foi o carisma – o modo de trabalhar dessas pessoas de vida consagrada: a cultura. “Por meio da cultura, se tenta alcançar o interior do ser humano”, explica. “Isso me atraiu e faz dez anos que fiz meus votos”, conta. Agora, está apaixonada pelo teatro. E faz hoje sua estreia. Não como atora ou diretora. Mas nos bastidores, numa função considerada das mais importantes no teatro: será iluminadora da peça.

O interesse de Irmã Catarina pelo teatro começou com o trabalho realizado para encenar a “Paixão de Cristo”, nas ruas do bairro Maylasky, de São Roque, com o Grupo de Teatro João Paulo II. “Era tudo muito simples. Eu sempre fiz a iluminação. Dessa e de outras peças. O grupo cresceu ao longo do tempo, mais de dez anos. Mais jovens foram aparecendo. As necessidades mudaram”, relata entusiasmada. Hoje, as encenações têm mais de 100 pessoas. Começam na rua terminam no pátio do salão igreja Sagrado Coração Jesus, da Diocese de Osasco.

Melhor: este ano o grupo ganhou um edital do Programa de Ação Cultural (ProAc) e obteve recursos para comprar um pouco de equipamento, realizar algumas oficinas e lutar para criar um espaço próprio. “Todos esses acontecimentos me obrigaram a buscar aperfeiçoamento”. Ela se matriculou no SP Escola de Teatro e Arte de Palco – no Brás, para um curso de iluminadora. “Lá, uma das jovens minha conhecida, chamou para fazer a iluminação no Macunaíma, da peça ‘O Homem do Princípio ao Fim’. Gosto demais do que faço. Do curso e do trabalho.”

No trabalho de iluminadora, Irmã Catarina não dispensa o hábito bege, com escapulário e véu azuis. Por isso, nos ensaios da peça, chegou a ser confundida com um personagem. “Essa confusão não tem importância. Chega até a ser divertida. Uso o hábito porque essa é a roupa de uma pessoa de vida consagrada”, explica a freira, que quando não está no teatro realiza as tarefas normais no sítio onde mora com outras duas religiosas. “O importante agora, como iluminadora, é que sei o que estou fazendo. Antes não sabia diferenciar um spot de um refletor… Fazia tudo na raça mesmo”. E, para um texto instigante como o de Millôr, que faz do humor uma forma extremamente crítica para discutir os caminhos do homem, uma irmã direcionando focos de luzes sob cada ator, não deixa de ser uma metáfora perfeita da criação.

O Homem do Princípio ao Fim – Teatro Escola Macunaíma (Rua Adolfo Gordo, 238, Campos Elísios). Tel. (011) 3667-0807. Ingressos a R$ 14. Hoje (11), sábado e domingo com duas apresentações às 19h e 21h. Confira as outras 55 peças da Mostra Macunaíma no site www.macunaima.com.br.

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