O saldo foi positivo para a maioria dos editores brasileiros que negociaram títulos na Feira do Livro de Frankfurt, a maior do mundo, que terminou ontem. A expectativa de que o mercado internacional estivesse de olho no Brasil por conta do bom momento econômico parcialmente se confirmou – graças ao fato de o País já se preparar para 2013, quando será o homenageado da feira, houve mais interesse pela literatura brasileira, principalmente por conta do programa de incentivo à tradução lançado pela Fundação Biblioteca Nacional, visando especialmente profissionais estrangeiros.
“Trabalhei novamente com autores brasileiros e obtive resultados”, comentou Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras. “O plano de auxílio à tradução está sendo bem recebido e ajuda de fato.” O mesmo caminho aquecido foi encontrado pela Record que, embora apostasse em um grande interesse em seus títulos de não ficção, conseguiu fechar importantes negócios justamente com os de ficção. Além do interesse em autores contemporâneos como Alberto Mussa e Edney Silvestre, editores estrangeiros buscaram detalhes sobre alguns clássicos, como Fernando Sabino e Rubem Braga.
Idêntica curiosidade foi percebida pela Globo, detentora dos direitos da obra de Monteiro Lobato: títulos juvenis do escritor paulista foram negociados antes mesmo do início da feira com Rússia, Polônia e Argentina. “Lobato tem um incrível apelo educativo, o que vem despertando consultas de outros países”, comentou o editor Marcos Strecker. “O mesmo não acontece, porém, com seus livros adultos, cujos temas são profundamente brasileiros.” Ele confirmou também o estrondoso sucesso de “Ágape”, do Padre Marcelo Rossi – depois de ultrapassar a estupenda marca de 7 milhões de exemplares vendidos desde seu lançamento em agosto de 2010, o livro já foi negociado para Portugal, Estados Unidos, França e Argentina.
À sombra da crise econômica que ainda atinge americanos e europeus, a Feira de Frankfurt deste ano provocou uma sensação de ligeira desorientação. “Em termos globais, me pareceu esquizofrênica”, observa Schwarcz. “Há muita queixa e preocupação com o futuro do digital e das livrarias, mas, ao mesmo tempo, pareceu mais aquecida.” Segundo ele, os editores internacionais relatavam uma escassez de grandes títulos, embora aparentassem ter feito muitas compras. “O mercado claramente vive momento de alta concorrência, o que é especialmente verdade para o Brasil.”
Roberto Feith, da Objetiva e Alfaguara, não sentiu mudança na postura dos agentes com relação aos brasileiros. “Apenas o comentário deles, repetido por vários, de que o nosso mercado parecia bem, vibrante, com editoras disputando títulos vigorosamente, ao contrário dos europeus.”
Os editores brasileiros não descuidaram também dos negócios digitais. O interesse é justificável. “Os planos da Google para vender livros digitais para consumidores brasileiros estão acelerando”, disse Feith. “Eles devem lançar sua primeira livraria no Brasil em breve.”
E, apesar das discussões sobre conteúdo digital terem dominado a feira, o evento terminou com amplo domínio dos negócios para publicação em papel. A grande novidade foi a presença de empresas que fornecem material literário para jogos de computador. “Elas deverão vir em número cada vez maior, pois buscam conteúdo diferenciado para seus programas, o que pode ser uma boa alternativa para as editoras”, acredita Jürgen Boos, presidente da Feira de Frankfurt. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.