São dez anos do adeus de Frank Sinatra – falecido em 1998. Mas aquele Sinatra, o que deixou marcas indeléveis na cultura popular no século 20, aquele já tinha nos abandonado alguns anos antes, quando foi forçado a se retirar dos palcos por causa da sua condição física. A rigor, para os mais críticos, são vinte anos sem Francis Albert, desde o final antecipado da Together Again, turnê que reunia de novo Sinatra, Dean Martin e Sammy Davis Jr, encerrada pela depressão de Dean e pelo câncer de Sammy.
Ali, Frank começou a nos deixar aos poucos. Ele não era ninguém sem seus amigos. Perto deles, era uma criança, um peralta que se divertia com coisas inúteis como jogar copos no chão – e depois reembolsar o dono do bar com dinheiro para comprar milhares de copos. Daqueles encontros surgiam outros, nos palcos de Las Vegas, em que ele se soltou como nunca em álbuns e apresentações em outras cidades. Aquele Sinatra era mais que Francis Albert. Era somente Frank, cantando seus standards com a categoria que sempre teve e a alegria que tantas vezes lhe fugiu entre os dedos. Para ser aquele facho de luz no palco, ele comeu o pão que o diabo amassou, principalmente quando teve – e depois não teve – Ava Gardner, o grande amor da vida dele.
Por causa dela, ele se transformou. O jovem franzino, ídolo das bobby-soxers da década de 40, virou o cara entristecido, como retratado na capa do álbum In The Wee Small Hours. A primeira virada o fez sair de cantor ?das multidões?? para ?A Voz??. Foi nesse período, década de 50, que Sinatra se colocou como grande nome da história da música, fez fortuna e achou tempo para flanar com seus amigos por Las Vegas.
Parece que foi para isso que ele lutou e sofreu tanto – para, depois dos 50 anos, poder viver como um garotão, cheio de dinheiro, mulheres e fazendo o que gosta. Nos discos, passou a apenas cantar coisas que não demandavam muito esforço, tanto que refez seu songbook da Capitol na gravadora Reprise (fundada por ele, depois incorporada pela Warner). O maior desafio para dele, dos anos 60 em diante, foi se adaptar à Bossa Nova nos dois álbuns que gravou com Tom Jobim (Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim e Sinatra & Company).
Mesmo sem fazer tanta força, Sinatra sempre foi o maior cantor de todos. Não fosse, não teria passado cinqüenta anos de carreira com sucesso, nem se perpetuado tanto após sua morte (isso sem os arroubos de fãs como os de Elvis Presley). Sem Sinatra, a música teria uma cara. Com ele, ganhou em luz, em qualidade, em humanidade. Virou mito, mas deve ser lembrado como simplesmente Frank.