Foi como descobrir a arca perdida – ao arrematar, em 2007, por apenas US$ 400 uma caixa com negativos de fotos antigas, o corretor de imóveis John Maloof, que também trabalhava como historiador, acreditava que apenas adquirira mais material sobre um livro que escrevia, a respeito da zona noroeste de Chicago. Tanto que não deu atenção imediata àqueles 30 mil negativos e 1.600 rolos de filmes não revelados. Mas, quando o fez, percebeu estar diante de um verdadeiro tesouro.
Tratava-se do arquivo de Vivian Maier (1926-2009), mulher que passou 40 anos trabalhando como babá em Chicago e que, nas horas vagas, fotografava gente comum, tanto em Chicago como em Nova York. Ciente de que não passava de um hobby, Vivian nunca divulgou suas fotos e o crédito só pôde ser conferido a ela graças à uma etiqueta com seu nome, grudada em um envelope.
Para se entender a qualidade do trabalho artístico da babá basta conferir a exposição O Mundo Revelado de Vivian Maier, que abre nesta terça-feira, 21, no MIS. São 101 fotografias (das quais, 79 em preto e branco), além de cinco folhas de contato e nove filmes gravados em super-8 mm.
“Em seu tempo livre, Vivian Maier fotografou a rua, as pessoas, os objetos, as paisagens. Ela soube capturar sua época em uma fração de segundo. Narrou a beleza das coisas comuns, buscando as rachaduras imperceptíveis e as inflexões fugidias do real dentro da banalidade cotidiana”, descreve Anne Morin, da diChroma Photography, curadora da exposição, informação fornecida pela assessoria da exposição.
“O mundo dela eram os outros, o desconhecido, as pessoas anônimas que Vivian Maier tocava por um segundo, de modo que, quando registrava com sua câmera, primeiro era uma questão de distância – a mesma distância que transformava aqueles personagens em protagonista de um acontecimento sem importância. E apesar de ousar com composições imponentes e desconcertantes, Vivian Maier permanece no limiar e até além da cena que fotografa, nunca deste lado, como que para não ser invisível. Ela participa do que vê e ela própria se torna sujeito”, acrescenta.
Na abertura desta terça, o MIS vai exibir o documentário Finding Vivian Meier, dirigido por Maloof e Charlie Siskel, que concorreu ao Oscar da categoria, neste ano. A dupla falou com 90 pessoas para montar seu quebra-cabeças cinematográfico sobre Vivian – afinal, a fotógrafa não comentava sobre sua vida ou seu passado nas casas onde trabalhou.
Ainda sem data definida, o museu também exibirá Who Took Nanny’s Pictures?, dirigido por Jill Nicholls, da BBC. Apresentado por Alan Yentob, o filme conta com entrevistas com pessoas que a conheceram e aqueles que revelaram seu trabalho.
Das poucas informações que sobraram sobre a fotógrafa, é sabida sua predileção pelo cinema, em especial o europeu. E, observando as imagens do cotidiano registradas por ela, é possível identificar uma forte influência do neorrealismo italiano assim como a nouvelle vague francesa. Vivian também era obcecada por autorretratos o que, segundo análise da crítica Maria Popova, seria uma resposta para a sua reclusão.
No Brasil, já foi editado o livro Vivian Maier: Uma Fotógrafa de Rua, pela editora Autêntica, panorama de sua obra. Filha de pai austríaco e mãe francesa, Vivian só ficou conhecida após sua morte em 2009. A fotógrafa passou a infância na França e, após voltar para os Estados Unidos, trabalhou como babá por mais de 40 anos. Ela também fez viagens internacionais, como para Manila, Bangcoc, Pequim, Egito, Itália, sempre registrando as ruas das cidades por onde passou. Após a exibição no MIS, a mostra tem data marcada em Seul (Coreia do Sul), Santiago e Valparaíso (Chile) e em Estocolmo (Suécia).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.