Fotógrafo revela suas impressões da era Mao

Durante a Revolução Cultural de Mao Tsé-tung (1966-1976), o fotógrafo chinês Li Zhengsheng, que então trabalhava como fotojornalista usando a braçadeira da Guarda Vermelha, escondeu 30 mil negativos numa fenda aberta em seu apartamento. Conservados por 20 anos sob o chão, graças ao tempo seco da cidade de Harbin, onde morava o fotógrafo, eles revelam a história de um período de terror, em que inimigos do regime maoista e da Revolução eram humilhados em público ou sumariamente eliminados. Li Zhengsheng está em São Paulo e vai participar, nesta segunda-feira, 16, às 19h30, na Livraria Cultura, de um debate com a jornalista Dorrit Harazim, autora de um texto sobre ele no quarto número da revista Zum. As senhas para o debate devem ser retiradas na loja do Instituto Moreira Salles do Conjunto Nacional.

Li Zhengsheng, hoje com 73 anos, é um dos principais convidados do festival Paraty em Foco (de quarta a domingo). Ele falará sobre seu trabalho no dia 21, às 15 horas, contando como passou a guardar negativos que poderiam ser considerados contrarrevolucionários pelo regime maoista. São imagens que chocam pelo ódio estampado nos rostos dos algozes dos “inimigos” da Revolução, uma delas exibindo o governador da província de Heilongjiang, Li Fanwu, com a cabeça raspada pelos soldados da Guarda Vermelha, em setembro de 1966.

O próprio fotógrafo que, jovem, apoiou a Revolução Cultural de Mao, tornou-se crítico em relação ao regime, ao fotografar a execução de oito condenados com tiros na cabeça, em 1968, dois deles acusados de contrarrevolucionários. Li fotografou em close seus rostos e decidiu, desde então, conservar esses negativos como testemunho das atrocidades cometidas em nome de uma ideologia da qual acabaria por ser uma das vítimas – ele foi mandado para um campo de “reeducação” para corrigir seus hábitos “burgueses”. Os envelopes pardos com os negativos proibidos que guardava na redação do jornal para o qual trabalhava só sobreviveram porque Li os levou para casa, escondendo-os na fenda que abriu no chão do apartamento, um cubículo de 12 metros quadrados.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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