O fotógrafo francês Willy Ronis, conhecido por retratar o cotidiano pós-guerra nas cidades de Paris e de Provença, morreu aos 99 anos neste sábado, poucos dias após ter sido internado em um hospital na capital francesa, de acordo com Stephane Ledoux, presidente da agência Eyedea Press.
Segundo Ledoux, o fotógrafo permaneceu “brilhante e ardente até o fim”, apesar de ter sido recentemente confinado a uma cadeira de rodas. “Perdemos o último dos grandes homens”, acrescentou.
Ronis, juntamente com Robert Doisneau e Henri Cartier-Bresson, estava entre os grandes fotógrafos franceses que surgiram após a Segunda Guerra Mundial, embora tenha iniciado a carreira na década de 1930. Grande parte de sua obra é composta por retratos de amantes e por cenas das ruas de Paris, refletindo o estilo da chamada escola humanista de fotografia.
Nascido em Paris em 14 de agosto de 1910, Ronis estudou violino, mas desistiu da música para assumir o estúdio de fotografia da família após seu pai, Emmanuel Ronis, adoecer. Durante quatro anos, ele fotografou casamentos, bebês e comunhões.
Um mês depois da morte do pai, em 1936, Ronis participou de sua primeira reportagem, um desfile de comemoração do Dia da Bastilha. Com o início da Segunda Guerra Mundial, ele se uniu ao exército e, quando os nazistas invadiram a França, Ronis – filho de judeus – mudou-se para o território que ainda não havia sido ocupado pelos alemães.
Em 1946, após o término da guerra, ele passou a integrar a agência de fotografias Rapho, juntamente com Doisneau. Ronis fotografava para reportagens sobre uma diversidade de assuntos, que iam desde moda até indústria, e tinha suas imagens publicadas em algumas das principais revistas da época, como Life e Vogue.
Seu interesse no final da década de 1940 e no início da década de 1950, no entanto, era retratar o dia-a-dia em Paris, particularmente o de distritos como Belleville e Montmartre, que abrigavam um número elevado de integrantes da classe operária. “Nunca fui aos distritos mais ricos. Eu estava interessado na vida popular”, afirmou Ronis em uma entrevista.
No final da década de 1950, o fotógrafo passou a trabalhar com moda e também como professor em Paris e Provença, onde morou até 1983, ano em que retornou à capital francesa.
Após quase 75 anos de carreira, Ronis, preso a muletas e impossibilitado de trabalhar, deixou a câmera de lado. “Se eu não posso correr, subir em um banco ou alcançar alguma coisa que me interesse e esteja longe, então acabou”, afirmou o fotógrafo durante uma entrevista em 2005. A idade, no entanto, não o impediu de pular de paraquedas aos 85 anos.
Em uma entrevista concedida em julho, Ronis comentou uma das fotos emblemáticas de sua carreira, tirada em 1957, que mostra um casal observando a cidade de Paris do alto. “No momento em que eu ia tirar a foto, o jovem beijou a namorada na testa”, detalhou.
Ronis tirou sua última foto profissionalmente em 2001. Em 2005, ele afirmou que nunca havia tirado uma foto maldosa. “Nunca tive a intenção de deixar as pessoas ridículas. Sempre respeitei as pessoas que fotografei.”
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, afirmou que o fotógrafo foi o “cronista das aspirações sociais do pós-guerra e o poeta da vida simples e feliz”. O ministro de Cultura da França, Frederic Mitterrand, disse que Ronis imortalizou “para cada um de nós a poesia da vida diária e a salvou do tempo perdido. Este grande narrador nos deu um presente que durará para sempre”.