“A fotografia é o desejo de criar um livro impossível, cujas páginas podem ser lidas de tempos em tempos”, escreveu o fotógrafo italiano Luigi Ghirri (1943- 1992), que acabou de ter sua obra apresentada em São Paulo na retrospectiva Pensar por Imagens, no Instituto Moreira Salles. Já para a fotógrafa sérvia Gordana Manic, quando deixamos de existir, são as imagens que ficam – como assombrações, afetos, indagação. É o que se vê no livro Ausente, que a artista realizou ao vencer o Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia.
A obra, que ficou pronta no fim de 2013, será lançada nesta quinta-feira, 23, às 18h30, no Instituto Figueiredo Ferraz de Ribeirão Preto, com debate reunindo Gordana Manic e o curador Eder Chiodetto, responsável pela coordenação editorial do livro. Ausente é um trabalho intimista – como é recorrente na poética da fotógrafa -, composto pela densidade de quem teve de fugir de uma guerra (dos Bálcãs) – e que, portanto, escolhe fazer uma fotografia velada pelo escurecimento, em preto e branco ou, por vezes, com pouquíssima cor.
É uma história de volta à casa em Novi Sad depois de 14 anos de ausência, de questionamento do próprio olhar e do sentimento de pertencimento. “Tentava amenizar minha constante sensação de desterro e incompletude”, escreve Gordana Manic no pequeno (e tão honesto) texto que está no fim de Ausente. Desde que chegou ao Brasil, em 1999, refugiada da Guerra do Kosovo, a artista – que é formada em matemática e professora da disciplina na Universidade Federal do ABC, em Santo André -, não havia realizado nenhuma fotografia em suas esparsas visitas ao seu país.
Entretanto, não é necessário saber de toda essa história para mergulhar no universo de Ausente. Cada uma das 38 obras do livro – ou cada par de fotografia, já que a edição é engendrada por duplas de imagens em diálogo -, tem a potência de despertar narrativas, sentimentos diversos, ou o imaginário, já que trata de questões tão contemporâneas. Animais – leve cisne branco, pesados porcos de abate -, aparecem nas composições assim como detalhes do interior de uma casa (um tecido pendurado na porta de um armário, sofás solitários, rachaduras no teto de uma sala, um casaco); pedaços de paisagens; imagens de álbuns antigos de família; acessórios de uma mulher (a mãe de Gordana); a radiografia de um pulmão (do pai da fotógrafa, morto). São imagens fragmentadas.
“Não queria especificar o lugar, não queria me prender a nada”, conta Gordana Manic, que também tem suas obras expostas agora na 1ª Bienal Masp-Pirelli de Fotografia, em cartaz no Museu Oscar Niemeyer de Curitiba, e na Central Galeria. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.