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Folk de Dylan no País

Uma cena cresce em São Paulo nos últimos anos, entre violões de cordas de aço, vozes abertas e canções que equilibram certa suavidade nas melodias de grupos dos anos 60 com o rock mais áspero dos 70. A frente folk não é nova entre os brasileiros. Sobretudo nos 70 e 80, a urbanização do que antes era decodificado como sertanejo fez surgir um legado de roqueiros rurais que só precisam de um violão para falar com o mundo. Sá, Rodrix & Guarabyra, Zé Geraldo, Renato Teixeira, Fagner, Zé Ramalho, Raul Seixas. Mais uma ideia do que um movimento, um comportamento musical do que um ritmo, era folk até mesmo quem não sabia o que era isso.

A segunda geração dessa turma tem origem há três ou quatro anos e vem se fortalecendo. Grupos de um folk menos comprometido com a poética da Casa no Campo dos 70 e sem a contestação política dos 60, usada por folkistas de origem americana, canadense ou inglesa, que têm em Bob Dylan sua bandeira mais alta.

Dylan é um nome a ser lembrado com honras aqui, já que dois de seus discos estão fazendo aniversário de 55 anos. The Times They Are a-Changin’ e Another Side of Bob Dylan, ambos de 1964. O primeiro foi um choque ao mostrar um Dylan dono da própria palavra pela primeira vez em todas as canções e trocando alguma leveza dos álbuns anteriores pelo sangue nos olhos ao falar de racismo, lutas sociais e guerra. A canção The Times They Are…, ele disse, foi feita para se tornar um hino. Não se tornou como outras suas se tornariam, mas Dylan virou o estandarte.

O folk brasileiro não tem a mesma pretensão. Historicamente mais longe das barricadas e perto do coração, começa a falar além do amor e do desamor e a dar sinais de amadurecimento. Impressão Sua é uma canção que a dupla Devonts, um belo lugar entre o country, o rock e o folk, lançou em 2017. Sua força está na forma, não apenas no discurso. A música é sobre a violência policial em manifestações e se tornou uma espécie de hit. Escorrega ao usar o termo ‘mulato’ na canção, alvo de debates antirracistas, mas quer denunciar justamente isso, o racismo. “Hoje a escola liberou mais cedo / Não vai mais ter aula, que delícia / O professor não vem, tá com hematomas / Que ganhou na passeata de presente da polícia.”

A maior surpresa é o duo Horses and Joy, um impressionante encontro de vozes e personalidades. Felipe Duarte, 25 anos, e Beatriz Tucci, 21, conseguem colar uma voz à outra o tempo todo. São canções lindas, cantadas em inglês. Se apresentam como uma dupla “influenciada pela música folk e rock dos anos 60 e 70, que valoriza a sonoridade nostálgica com seu próprio toque de criatividade nas composições”. Agora, depois de um EP com cinco canções, Sunflower Sessions, eles preparam o lançamento do álbum Magnolia, com 11 canções.

Se o resultado das vozes vem do suor ou da inspiração? “Gostamos muito de brincar em casa com os violões, pensar em harmonias com ele. Quando colocamos as vozes, sai tudo muito natural”, diz Felipe. Gabriela é filha do guitarrista de rock Leandro Rosa com quem tudo começou. “Acabo levando algumas coisas que ele não conhece. É uma troca ótima.”

Outra dupla de destaque, Duas Casas, gravou um das faixas de Magnolia e prepara disco com músicas de Raul Seixas no espírito folk. Bezão vem do grupo Folk na Kombi e Nô Stopa, filha de Zé Geraldo, tem uma longa carreira. O folk, como cena, já é uma realidade.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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