Comédia

‘Foi o melhor ‘não’ que ouvi’, diz Porchat sobre Monty Python

Eu estava com o microfone na mão. Era a minha vez de fazer a pergunta, entre jornalistas do mundo todo. E, naquele momento, me senti como uma garotinha de 11 anos ao se deparar frente a frente com o Fiuk de cueca. Só que o meu Fiuk, no caso, eram os cinco integrantes do grupo Monty Python. Vestidos, claro.

Eu gaguejei, ri de nervoso, meu inglês se transformou num inglês pior do que o de um migrante chinês recém-chegado à América e eu comecei a elaborar uma pergunta bem idiota. Claro. Tinha pensado em tantas coisa para falar, para perguntar, mas foi o que eu consegui criar no susto.

Nunca fiquei assim em toda a minha vida. Mas é que os Beatles estavam ali, parados, olhando pra mim e querendo saber o que eu tinha a dizer. Às 10h20 da manhã, eu estava em frente do London Palladium à espera da coletiva de imprensa do maior grupo de humor da história do mundo. Só isso. Estava sentado na primeira fila do Maracanã para assistir ao Brasil vencer de 100 a zero a Argentina, essa era a minha sensação.

Quando os cinco caras entraram no palco, me dei conta do que estava acontecendo. Eu estava frente a frente com a história. Eles começaram a falar sobre a apresentação ao vivo que vai ocorrer hoje, aqui em Londres. Após mais de 30 anos, eles se juntaram para fazer dez shows num lugar para 4.500 pessoas. Eu sou uma delas.

Dia 1.º de julho se torna um dia mais especial ainda na minha vida. Não só porque eu nasci, mas vou poder dizer pros meus netos que eu vi o Monty Python ao vivo e em cores.

A coletiva foi bem tranquila, atrasada, sem muita gente, de manhã, com jornalistas não rindo de nenhuma piada, enfim, coletiva de imprensa é igual no mundo todo.

Na minha vez, o que consegui falar é que eu era brasileiro, falei que representava o Estadão e que fazia parte do Porta dos Fundos. Eles foram incrivelmente amáveis e ficaram felizes ao saber que eu era do Brasil. Enquanto eu perguntava, parecia que estava caindo do alto do Big Ben. A sensação era horrível.

Minha pergunta foi se eles acompanhavam algum tipo de humor novo que tinha surgido, na internet, TV ou no cinema, nos últimos anos. Após uma pausa perfeita de dois segundos e meio, a resposta foi precisa: não. Ponto. Todos rimos. E lá se foi a minha chance.

Queria ter perguntado sobre os paralelos entra A Vida de Brian e The Book of Mormon (ótimo espetáculo da Broadway escrito pelos criadores do genial desenho animado South Park), queria ter perguntado sobre como foi a reação das pessoas perante o filme, das diferenças de mídia, TV, cinema, teatro, de como o humor deles pode ser tão à frente daquele tempo e de hoje. Podia ter feito qualquer pergunta no mundo, mas travei. Como jornalista, sou melhor cancelando uma linha de telefone. No fim, como um fã típico, fiquei esperando eles irem embora e consegui apertar a mão de um por um e dizer olho no olho de cada um: I am a big fan, thank you.

Não adianta, fã é tudo bobo. Tudo igual. Você pode ser fã da Marisa Monte, do Silvio Santos, do João Kléber, do Chitãozinho, do Kléber Bambam, você é fã e ponto. Quando a gente é tão fã que trava, a gente não consegue fazer o nosso trabalho. Desculpa Estadão, o que consegui deles foi só um “não”. Mas foi o melhor “não” da minha vida! As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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