Foto: Luiza Dantas/ Carta Z Notícias

Jayme Monjardim: ?Não sou só um diretor de tramas de época?.

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Jayme Monjardim é um sedutor. Com uma voz suave de quem foi educado em colégios da Suíça, o regente das lentes de Páginas da vida reafirma seu fascínio pela inovação da linguagem na tevê. Aos 30 anos de carreira, ele se diz empolgado com a chegada da tevê digital ao Brasil, enquanto ainda recolhe os louros de sua primeira parceria com Manoel Carlos. Na verdade, o diretor se sente aliviado por emplacar uma trama que se equilibrou com satisfatórios 49 pontos de média com 68% de participação. Isso após ter sido afastado de América, de Glória Perez, logo após a estréia da novela, em 2005. ?Nesse trabalho, mostrei que não sou só um diretor de tramas de época. Faço épicos do interior humano?, filosofa.

P – Que análise você faz dessa sua primeira parceria com o Maneco e como você lidou com o estilo do autor, de trazer notícias frescas para o capítulo do dia?

R – Essa novela evidenciou para mim a relevância deste gênero no País. O quanto esse produto tem o poder de unificar as pessoas, exercer um papel social, romper tabus e alertar. Conseguimos alardear problemas como a bulimia, o alcoolismo e mostrar que o contágio da aids no planeta ainda continua preocupante. O conceito do Maneco é a atualidade no capítulo do dia. Sabia do ritmo dele. Combinamos que até o meio-dia ele me manda alguma cena sobre um fato importante para eu gravar no mesmo dia. Organizei uma estrutura para atender a esse estilo.

P – Como você recebeu as críticas por ter colocado na trilha sonora da novela uma música cantada por sua namorada, Tânia Mara?

R – Quem não tem talento, não vai para frente. Se a Tânia não tivesse o mérito da música dela, não estaria há cinco meses no primeiro lugar no Brasil inteiro com Se quiser. Todo mundo na vida precisa de uma oportunidade. Meu filho está se formando em cinema nos Estados Unidos. Você acha que eu não vou dar uma oportunidade para o meu filho, sabendo que ele é bom?

P – Em Páginas da vida você usou o software Baselight, que modifica as cores, iguala textura de pele, passa a aprimorar a qualidade da imagem. De que forma esse programa influenciou nesse trabalho?

R – Daqui para a frente não tem como não se usar o Baselight. Com a vinda da tevê digital, pelo nível de exigência que se precisa hoje para figurino, cenografia e maquiagem, as peles têm de parecer bem-tratadas, os acabamentos precisam estar perfeitos. Esse equipamento antecipa um pouco a tevê de alta definição. Nos prepara para essa transição. Vai ser como a mudança da tevê em preto e branco para a colorida.

P – No que isso vai modificar seu trabalho?

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R – Em tudo. A única coisa que não muda é a interpretação e o texto. A criatividade vai se tornar 100 milhões de vezes mais importante que a tecnologia. Vou poder trabalhar com uma equipe reduzidíssima, gravar em lugares que não permitem uma grande equipe, como a Antártida. O que vai valer é a idéia. A tecnologia passará a permitir todos os delírios. Já estamos pensando na novela interativa, onde o público manda. Esse é um dos meus sonhos agora. O público decide como vai acabar uma cena. Chamo de novela-labirinto, é uma novela ?game?. Minha preocupação é estudar a novela do futuro.

P – Esse ano você faz 30 anos de carreira, desde que estreou na Band com um especial sobre sua mãe, a cantora Maysa. Como está o projeto de fazer uma minissérie em homenagem a ela?

R – O projeto está incubado. A Globo já aprovou, mas preciso encontrar uma atriz que interprete e cante, além de reunir mais material. Não chegou a hora. Mas neste ano preciso estudar a tevê digital. Me orgulho da tevê estar enraizada em mim. O cinema é onde deliro, onde me divirto. Na tevê é onde coloco meus compromissos com um planeta melhor. Me sinto um profissional realizado, mas sou absolutamente neófito pelo que vem. Estou no momento de me reciclar.

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