Em mais um round da luta de João Gilberto versus gravadora EMI, iniciada em 1987, deu João Gilberto. O mesmo desembargador André Gustavo Correa de Andrade, que há uma semana decidiu que as fitas originais dos discos Chega de Saudade (1959), O Amor, O Sorriso e a Flor (1960), e João Gilberto (1961), além do compacto João Gilberto Cantando as Músicas do Filme Orfeu do Carnaval, ficassem em poder da EMI reconsiderou ontem (21) sua decisão. Até o dia do julgamento que será realizado pela 7ª Vara Cível do Rio de Janeiro, ainda sem data estabelecida, as gravações devem ficar em poder de João Gilberto. A EMI tem cinco dias úteis para entregar este material em horário comercial ao compositor. Se não o fizer, pode pagar multa de R$ 100 mil (valor único) e sofrer uma operação de busca e apreensão em sua sede.
O desembargador convenceu-se de que, ao contrário de seus argumentos anteriores, João tem condições técnicas de cuidar do material. O trabalho de preservação será feito pela empresa Recall, com “a mesma qualidade e especificação da empresa contratada pela EMI”, diz um texto divulgado pela assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
Nas entrelinhas, o magistrado sensibiliza-se também com a idade de João Gilberto, que em 10 de junho irá completar 82 anos. “A não concessão da antecipação de tutela traria fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, consistente na possibilidade de perda da capacidade criativa do autor em razão da demora no julgamento da causa. O passar do tempo pode inviabilizar, em termos práticos, a remasterização das gravações com a qualidade desejável, sob a supervisão daquele que é o autor e intérprete das gravações originais.”
Raphael Miranda, advogado da EMI, está indignado. “É como você comprar um quadro de um artista, pagar por ele e, 55 anos depois, este artista pegar o quadro de volta para refazer a pintura. Isso não existe.” E vai além: “Quem nos garante que, se a decisão final for favorável à EMI, eles vão devolver estas fitas intactas?” Miranda diz ainda que João mente quando afirma que a EMI adulterou os originais. “Em 2011, nós mostramos as fitas para ele. João chorou de emoção. Está tudo intacto.” Claudia Faissol, que representa João, não retornou aos pedidos de entrevista.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.