Físico curitibano lança seu primeiro livro de poesia

Repleto de influências – que vão de Leminski, passando por Gonçalves Dias e Manuel Bandeira – Alysson Ramos Artuso acaba de lançar A Poesia (r)existe (Escrituras, 165 páginas), seu livro de estreia. O trocadilho do título já deixa clara a ousadia do autor em fazer poesia nesses tempos de cólera literária, tempos que em que a boa literatura precisa ascender para existe e resistir.

Trilhando um caminho pouco usual, afinal Artuso é físico e tem um pé na estatística, ele mostra que a precisão das ciências exatas é o que dá um quê especial aos seus versos. Leitor desde muito jovem, a literatura não seria algo estranho ao seu destino – até mesmo nas situações mais inusitadas, como a descoberta do “desconhecido” Affonso Romano de Sant’Anna.

“Perguntei para o atendente da livraria quem era aquele cara no meio de tantos figurões. Ele também não sabia. Comprei e foi o livro que mais gostei de todos [que comprei naquele dia]. Mas eu nem pensei que ele era também um escritor consagrado, não encontrei nada dele na incipiente internet de 1997, mas tinha um contato no próprio livro e escrevi para ele. Era algo como ‘gostei, que legal, continue escrevendo, quer que eu faça uma página para você na internet?’. Ele foi extremamente simpático e acessível e fui descobrindo que ele era muito mais reconhecido do que eu imaginava e, de fato, fiz a página para ele”, conta Alysson sua peripécia.

Coração acrobata

Logo se vê que Artuso nada tem de “fingidor”, é um poeta do seu tempo, ou nas palavras do escritor e compositor Carlos Machado, “desafia o leitor, chama-o para o embate”, confirmadas nos versos: “Respeitável público/Abre o dia o espetáculo único/Do picadeiro dos versos/O esterco extroverso://A métrica incerta trapezista/A marionete solo e a íngua equilibrista/Apalavra-bala e a rima palhaça/No coração acrobata”.

Brincar com a metapoesia não é nenhuma novidade, mas o grande trunfo de A Poesia (r)existe está na originalidade como esse recurso é conduzido. Alysson relembra o poeta Paulo Leminski não só por citá-lo, mas também pela estrutura de sua poesia, ou seja, em um mesmo poema o autor consegue uma dupla citação: em forma e conteúdo. Realmente, uma artimanha para poucos.

O livro é dividido em quatro partes, sendo a segunda, “Traduzir-se”, uma referência certeira a um de seus heróis, o poeta Ferreira Gullar, por sinal, um dos mestres da metapoesia. Entretanto, esse segundo quarto da obra mais que a tradução do mundo em palavras, é a definição do autor para a compreensão do ser humano. “Através de terceiros/traduzo (o) segundo/(do) meu mundo primeiro”, diz logo o primeiro poema desse “momento” da obra. Na verdade, é algo que dispensa explicações.

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