Em 1954, Vinicius de Moraes encerrava seu poema A Morte da seguinte maneira: “Dos homens, ai dos homens/Que matam a morte/Por medo da vida”. Sessenta anos depois, Juçara Marçal nem sequer cogitou matar a morte. Ao contrário, a cantora decidiu encará-la de frente e usá-la como o fio condutor de seu primeiro disco solo, lançado nesta terça-feira, 18, na internet com o nome Encarnado.
Depois de discos com os grupos A Barca e Vésper, a intérprete teve presença marcante nos últimos anos em álbuns de artistas independentes, como Metá Metá (trio formado por ela, Kiko Dinucci e Thiago França), Rodrigo Campos (Bahia Fantástica), Criolo (Nó na Orelha), Thiago França (Malagueta, Perus e Bacanaço), Emicida (O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui), Cacá Machado (Eslavosamba), entre outros.
Agora, em seu disco, Juçara reúne canções inéditas e regravações de compositores com quem ela está acostumada a trabalhar, como Dinucci, Campos, França, Romulo Fróes, além de Douglas Germano (de quem ela já gravara músicas em álbuns anteriores) e de nomes como Tom Zé, Itamar Assumpção (1949-2003) e Siba.
Acompanhada por Kiko Dinucci (guitarra), Rodrigo Campos (guitarra e cavaquinho) e Thomas Rohrer (rabeca), Juçara também gravou uma faixa de sua autoria, Odoya. Sobre a morte, representada no álbum de diversas maneiras e pontos de vista, a cantora diz que a temática lhe apareceu com mais clareza no meio do processo de concepção e gravação do disco.
“Não pensei em fazer um disco sobre a morte. Foram surgindo músicas que se mostraram com uma integridade entre elas que tinha a ver com a morte, não foi um projeto a priori”, explica Juçara. “Mas tem a ver também com o fato de eu ter esse tema como uma coisa que me interessa, que me intriga. É essa coisa misteriosa, de você achar vida nesse momento, é como um grito de vida diante disso que é inevitável”, completa.
Encarnado, que tem previsão de ser lançado também em CD físico em abril, foi bancado pela própria Juçara. “É tudo Às Próprias Custas S.A., até nisso o Itamar me inspira”, brinca a cantora, citando o disco de Itamar Assumpção, figura marcante da Vanguarda Paulista ao lado de nomes como Grupo Rumo, Premeditando o Breque, Arrigo Barnabé, entre outros que influenciaram Juçara nos anos 1980. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.