Final de semana com Oscar na cabeça

Em 76 edições de premiação, nunca houve uma cerimônia do Oscar como esta de domingo. Nunca os brasileiros ficarão tão atentos como desta vez, afinal de contas, não é todos os dias que um filme genuinamente nacional obtém 4 indicações para a cobiçada estatueta. Cidade de Deus, ou melhor, o diretor Fernando Meirelles, o roteirista Bráulio Mantovani, o editor Daniel Rezende e o diretor de fotografia César Charlone correm por fora, é claro, pois não contam com o lobby e o poder dos outros indicados. Mesmo assim é gostoso torcer e pensar que o importante é competir. Sem esquecer de Carlos Saldanha, pelo desenho animado Gone Nutty – este com mais chances que os outros.

Fim de semana do Oscar em Hollywood. Americanos sabem trabalhar seus produtos. Tudo começa na quinta-feira à noite quando são promovidos os ensaios de locação no Teatro Kodak. Quem vai sentar aonde e com quem famoso. Em seguida, atraindo turistas de todos os cantos da Terra, os organizadores da academia criam museus e galerias temporárias, visitações e “degustações” de filmes, fotos e pôsteres, preparação de arquibancadas na porta do teatro, festas e mais festas, coquetéis e merchandising com produtos e pessoas, mesmo atores e atrizes famosas, como Charlize Theron.

O Oscar deste ano promete ser inesquecível. Os brasileiros poderão assistir no SBT. A TV local, ABC, já avisou que irá transmitir a cerimônia com 5 minutos de atraso para evitar que malucos (penetras) e desequilibrados (do mundinho do cinema) protestem politicamente ou utilizem essa mídia para seus interesses.

Estrelas como Nicole Kidman, Charlize Theron, Uma Thurman e Renée Zellweger vão garantir a festa dos fotógrafos, das maisons de costura e dos designers de jóias. Não existe melhor propaganda e nem melhor vitrine do que essa do Oscar.

As mulheres fazem o cinema com charme, beleza e talento para interpretações de tirar o fôlego. As mulheres farão o Oscar. Para os brasileiros, as esperanças caem em cima de 5 indicados. Todos homens.

Épico à antiga com 10 indicações para o Oscar

Entre os top filmes deste final de semana no Oscar, destaque para “Mestre dos Mares”, que está indicado para dez categorias. Mas este não é seu cartão de visita mais interessante. O melhor é que se trata de um exemplar de filme de aventuras à antiga, daqueles de Errol Flynn e Michael Curtiz. Entre esses prêmios, concorre também ao de efeitos especiais e estes são mais notórios na grande tempestade que o navio enfrenta quando atravessa o Cabo Horn. Quem é familiarizado com livros, ou filmes de aventuras náuticas, conhece de cor os problemas de quem se dispõe a cruzar o Horn, essa ponta de terra temível, divisa entre o Atlântico e o Pacífico, um inferno de águas geladas e tumultuosas. O terror dos marinheiros.

Em “Mestre dos Mares”, essa travessia é mostrada com terrível realismo, com o vento derrubando velas e inclinando o navio, ondas varrendo o tombadilho, marujada em pânico. De arrepiar. Pois bem, permitam um parêntese. Às vezes é bem útil para um crítico profissional assistir aos filmes em companhia do público. Neste caso, foi possível notar o tédio de uma platéia de shopping e o comentário final de um adolescente: “Filme chato né?, nem efeito especial tem.” A crítica teen funciona como elogio, já que efeito especial bom é esse mesmo, o que não se nota. Mas hoje, parece, é preciso ostentar – “Olha aqui, gastamos um dinheirão só em efeitos especiais, portanto aproveite.” Enfim, mesmo nessa disposição de esconder as proezas técnicas e não escancará-las como chamariz, “Mestre dos Mares” parece um delicioso filme à antiga.

Dirigido por Peter Weir (de O Show de Truman), com Russell Crowe no papel do capitão Jack Aubrey, “Mestre dos Mares” traz a história de uma perseguição naval ocorrida durante as guerras napoleônicas. Aubrey pilota a nau inglesa H.M.S. Surprise e corre pelos sete mares atrás da fragata francesa Acheron. Essa obstinação é o que dá sabor à aventura. Mesmo porque, Aubrey, apelidado pela tripulação de Lucky (sortudo), tem, dentro do próprio navio, um oponente amigável, o dublê de aventureiro e naturalista Stephen Maturin (Paul Bettany). (Luiz Zanin Orichio)

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