O apartheid social do Rio de Janeiro ganhou tom bem-humorado no filme de Alice de Andrade, Diabo a Quatro, que encerrou a mostra competitiva de ficção do Festival do Rio nesta segunda-feira. Estreante na direção de longas, a filha de Joaquim Pedro de Andrade (Macunaíma) preferiu criar uma história cômica e lúdica para mostrar vários lados “da cidade de cidades misturadas”, como já definiu Fernanda Abreu. Aliás, música é o ponto forte da obra. Na trilha sonora está um som bem íntimo dos cariocas, tendo Pedro Luís e A Parede, Fausto Fawcet e Lenine na lista.
Diabo a Quatro faz parte de uma linha de filmes da Premiére Brasil que retratou na tela a curiosa mistura social do Rio de Janeiro. Seja sob um contexto político, ou sob a forma de suspense de Felipe Joffily, em que três amigos de classe média se envolvem em uma história de roubo e seqüestro na tentativa de conseguir dinheiro para passar o Carnaval na Bahia.
O filme mostra a vida de quatro personagens bem diferentes: o menino Waldick (Netinho Silva), que fugiu de casa, em Juiz de Fora, para tentar a vida no Rio; o cafetão Tim Mais (o ótimo Márcio Libar) dono do bordel Heaven em Copacabana; o playboy Paulo Roberto (Marcelo Faria), filho de candidato político viciado em maconha; e a babá Rita de Cássia, que decide virar prostituta (Mistery) para ajudar a família e se aproximar de sua paixão não correspondida.
Mais uma vez o cinema recorreu ao talento dos atores da comunidade do Vidigal. Assim como em Quase Dois Irmãos, Alice de Andrade reuniu jovens do Nós do Morro para vários papéis como os de meninos de rua, da prostituta (a atriz Roberta Rodrigues), do policial (o diretor do grupo, Guti Fraga) e o próprio Jonathan Haagensen , no papel de traficante de drogas, que tem como seu grande objetivo encontrar uma lata de maconha jogada na Baía de Guanabara por uma avião estrangeiro. Outra história inspirada na vida real.