Foram dez dias de peças a céu aberto, espetáculos em teatros, exposições, lançamentos de livros e oficinas que movimentaram o meio cultural curitibano, que recebeu artistas e público de outros estados. Hoje, em seu décimo-primeiro e último dia, o Festival de Teatro de Curitiba (FTC) apresenta mais de oitenta peças pelas mostras Fringe, Contemporânea e Infantil. Na atual edição, o Fringe foi criticado pela imprensa devido à má qualidade das peças. De fato, nenhum grupo estreou uma obra prima. Exigências a parte, o fato é que o público aprovou. A Mostra Contemporânea teve momentos reveladores como a expressiva Hygiene.
Durante o ano inteiro, dezenas de grupos superam adversidades e fazem um verdadeiro malabarismo para manter seus integrantes e produzir espetáculos de qualidade. O motivo: o amor em representar e a divulgação da cultura e arte popular. O festival propõe uma verdadeira maratona teatral. Foram mais de duzentas apresentações, espetáculos de bom nível e outros de qualidade duvidosa. Em entrevista coletiva realizada anteontem, o diretor do FTC, Victor Aronis, afirmou que a Mostra Fringe foi idealizada para ser um programa à parte da mostra Oficial. ?Como os espaços culturais e as companhias de teatro não assumiram o programa, a direção do festival assumiu o Fringe como um evento paralelo?, afirmou.
Enquanto o caráter informal que o Fringe tomou desagrada à crítica intelectual, agrada ao povo. ?O festival não pretende ser a verdade, só mostrar peças boas. Mostramos o que está acontecendo, é a fase que o teatro vive e talvez seja um momento difícil?, completou Aronis.
Segundo o presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Paulino Viapiana, o festival funciona como uma mola propulsora para que a programação dos teatros se mantenha durante o ano todo. ?Buscamos uma efervescência cultural ao longo do ano, tanto que diversos espaços culturais, ícones arquitetônicos e patrimônios da cidade foram recuperados?, disse. Aproximadamente 110 mil pessoas acompanharam o Festival de Teatro, o mesmo número da edição passada. O Fringe levou 50% do público para suas salas e ruas, 30% acompanharam a Mostra Principal e o restante foi aos eventos paralelos e exposições.
Em meio a dificuldades financeiras e estruturais – apesar de contar com o apoio da Prefeitura Municipal, que possui uma cota de patrocínio – o maior festival de teatro do País foi realizado com R$ 2,5 milhões. Uma quantia baixa. A carência de apoio se observa, inclusive, na burocracia e falta de agilidade da máquina federal. Inscrito na Lei Rouanet e tendo cumprido todos os prazos para entrega do projeto, o festival só foi aprovado na última quinta-feira, um fato a se lamentar observando que o evento teve início no dia 16 de março. A maior gafe do evento foi a não exibição da peça que encartava a capa do guia do evento e dos principais cartazes: Antônio e Cleópatra, um amor imortal foi cancelada devido aos compromissos que o ator protagonista, Caco Ciocler, tinha com a emissora Rede Globo.
Nem só de problemas o FTC viveu. Um dos grandes destaques do festival, a peça Hygiene movimentou as tardes no Largo da Ordem do início ao fim do festival. Para quem transitava nas proximidades da Igreja do Rosário por volta das 16h30, foi difícil não se render ao teatro de rua que o grupo paulista XIX de Teatro propiciou. No rosto das pessoas se via a alegria e o contentamento em se sentir um pouco ator. ?Sinto-me como se fizesse parte da peça? , comentou o aposentado Jorge Ribeiro no primeiro dia de apresentação.
Assim transcorreu o Festival de Teatro de Curitiba. Centenas de atores, espetáculos com média produção; boas atuações, como a de Júlia Lemertz em Molly Sweeney, um rastro de luz, e em outros trabalhos apenas a coragem e a vontade. A definição para o teatro e o artista da dama do teatro paranaense, Lala Schneider, bem explica o Festival de Curitiba. ?É no amador, onde o palco é a rua e o cenário é o céu, que surgem os verdadeiros artistas. O que o teatro do Brasil precisa é de boas comédias. Não que isto exija superproduções, o necessário é um bom texto. O resto fica por conta do ator e do palco.?
