Gramado – Com a honrosa exceção de De Passagem, de Ricardo Elias, exibido na segunda-feira à noite, o cinema latino tem dado um banho no brasileiro no 31.º Festival de Gramado. Quarta-feira houve outra decepção do Brasil, mais exatamente do Rio Grande do Sul. Noite de São João, de Sérgio Silva, pode ser interessante no plano teórico, mas tropeça na realização.
Se o cinema começa mesmo e se dilata na epiderme dos atores, Silva errou ao importar do Rio, do elenco global, dois atores jovens (Fernanda Rodrigues e Marcelo Serrado), que passam ao largo das complexas implicações do texto, com seu conflito de classes travestido de embate sexual entre patroa e empregado. Noite de São João confirma tese do crítico Rubens Ewald Filho: os diretores deveriam pular o segundo filme e passar logo para o terceiro, principalmente se acertaram no primeiro. O segundo – Rubinho vale-se de numerosos exemplos em diferentes cinematografias – é quase sempre ruim.
Os melhores longas de ficção exibidos até agora são os latinos Segunda-Feira ao Sol, do espanhol Fernando León Aranoa, e Lugares Comunes, do argentino Adolfo Aristarain. Ambos têm distribuição garantida no Brasil, o primeiro pela Pandora e o segundo pela Europa, mas para apreciar devidamente o belo trabalho de Aristarain o público terá de livrar-se de um preconceito: os filmes sobre velhos não costumam ir bem de bilheteria, e isso vale até para um monumento do cinema, o clássico neo-realista Umberto D, de Vittorio De Sica.
O melhor documentário é O Prisioneiro da Grade de Ferro, de Paulo Sacramento. O cineasta despiu-se de toda arrogância e colocou sua câmera nas mãos dos próprios detentos do Carandiru para que eles fizessem seus (auto)retratos impactantes.
