Filme tem amor como tônica

Heitor é um professor de literatura quarentão, e Júlia uma estudante de veterinária bem mais nova do que ele. O ponto de partida para essa história, que foi parar nas telonas, é uma briga do casal por telefone. A cidade de São Paulo, que é usada como cenário, é onde ocorre a narrativa de A Via Láctea, filme que estréia em Curitiba nesta Sexta-Feira Santa. O filme aborda as possibilidades do amor, perda e morte em um grande centro urbano e seu contexto social.

A diretora Lina Chamie afirma que A Via Láctea traz como proposta falar desse sentimento universal que é o amor, mas que acarreta inúmeros outras conseqüências, como a ruptura, o apego à vida, o desejo de ficar. Porém a forma de falar desse amor é que é diferente. ?Para realizar A Via Láctea, encontrei no suporte digital, com uma pequena câmera, a agilidade necessária para filmar, continuamente, pelas ruas de São Paulo, ?roubando? cenas da cidade?, disse. O filme foi rodado 80% em Digital MiniDv e 20% em película Super16mm e 35mm.

O ator Marco Ricca (O maior amor do mundo, O invasor) é Heitor, que após a discussão por telefone com a namorada, sai com seu carro pelas ruas da capital paulista no desejo de falar pessoalmente com Júlia, que é interpretada por Alice Braga (Cidade de Deus, Cidade Baixa). Em meio ao trânsito conturbado da cidade, ele começa a mergulhar em lembranças do passado. ?As impossibilidades da cidade vão dialogando com sua viagem interior?, diz Lina. Segundo a diretora, o filme emociona o público, que se comunica com a história através de cenas recheadas de sensibilidade, literatura e sentimento. ?É uma viagem de todos?, diz.

A narração é fragmentada, a câmera se fixa nos imensos jogos de luzes da noite paulistana, dos faróis dos carros à luz das estrelas, enquanto a música de Schubert e Mozart, que se funde com o barulho da cidade, aparece como um elemento dramático de narração tão importante, às vezes mais, que os diálogos.

A Via Láctea é um filme totalmente original, com o qual Lina Chamie assumiu o risco de experimentar uma linguagem cinematográfica ousada e ambiciosa. E isto com um orçamento mais do que limitado, visto que o filme custou apenas 300.000 euros (404.849 dólares), e pôde ser finalizado graças à ajuda da empresa Ibermedia e do Prêmio Casa de América da mostra Cinema em Construção.

No entanto, a diretora brasileira diz que seu ponto de partida ?foi o coração?.

?Acho que é uma história sobre o amor, o rompimento amoroso, a dor e a morte. Finalmente, (são) temas muito universais, sentimentos comuns a todas as pessoas?. A cineasta prestou uma homenagem a seus atores, que segundo ela deram ?muitas coisas aos personagens?.

Alice Braga ?é uma atriz muito jovem, muito vital, muito carismática. Não é uma pessoa de palavras, é uma atriz que trabalha o sentimento. Era perfeita para interpretar Julia?. E Marco Ricca ?é um ator muito intelectual. Os dois tinham características muito próximas ao que eu queria refletir na tela?, explicou.

A Via Láctea é o segundo longa-metragem de Lina Chamie, depois de Tônica dominante (2003), com o qual ganhou vários prêmios internacionais. Em comum, os dois tem o apreço pelo cinema de sensações.

A Via Láctea recebeu o Prêmio ?Casa de América? no ?Cine en Construccíon? no Festival Internacional de San Sebastián, Espanha, em 2006, e teve sua estréia mundial em maio de 2007 no Festival de Cannes, onde foi incluído na Seleção Oficial da Semana da Crítica. Antes de chegar às telas de São Paulo e Rio de Janeiro, em novembro, passou por mais de trinta festivais, como os internacionais de Films du Monde, em Montreal (Canadá); Hamburg Film Fest, em Hamburgo (Alemanha); Vivamerica, em Madri (Espanha); e Festival del Nuevo Cine Latinoamericano em Havana (Cuba). Neste ano A Via Láctea já foi exibido nas principais capitais brasileiras. Em Curitiba ele fica em cartaz no cine Unibando Arteplex, do Shopping Cristal.

Lina Chamie

Lina Chamie morou por 14 anos em Nova York, onde se graduou pela New York University (1988) e obteve seu mestrado pela Manhattan School of Music (1991). Durante dez anos trabalhou no departamento de cinema da New York University. De volta ao Brasil desde 1994, dirigiu vários vídeos e o premiado curta metragem Eu sei que você sabe. Tônica dominante, seu longa-metragem de estréia, recebeu entre outros prêmios o Kodak Vision Award WIF Los Angeles, e o prêmio da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte), de Melhor Fotografia em 2001.

Foi professora da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, no Dep. de Artes e Comunicação no curso de Imagem e Som de 2001 a 2005 e realizou entre seus trabalhos mais recentes os filmes que integraram a Exposição Amazônia/Brasil BR realizada no Grand Palais em Paris/França, 2005. 

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