Certos filmes são difíceis de analisar. Seja ele por tratar de temas de foro íntimo (como os religiosos) ou por lidar com gostos pessoais (de uma série de livros, por exemplo), qualquer palavra mal encaixada, ou mesmo mal interpretada, pode causar as mais diversas reações coléricas. No caso de Somos Tão Jovens, filme que retrata o final da adolescência e início da vida adulta do cantor e compositor Renato Russo, líder da Legião Urbana, uma das maiores – se não a maior – e mais influentes bandas de rock do Brasil, morto em 1996, aos 36 anos, em decorrência da AIDS, a tarefa foi duplamente ingrata, pois invoca estes dois temas. Ou seja, estaremos tratando de um personagem que é venerado como um deus e que possui um grande séquito.
Antes de qualquer coisa, podem respirar aliviados, uma vez que o filme é bom. Afinal de contas, um material que aborda a rica história (ainda que de forma parcial) do cantor e mostra como surgiu a cena musical de Brasília (da qual saíram bandas como a própria Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude) só pode funcionar bem. Além disso, para os fãs, qualquer desculpa para ouvir as músicas compostas por Russo é sempre bem-vinda e faz com que o filme funcione.
Contudo, as imperfeições do longa não demoram a surgir e, infelizmente, não são poucas. O que chama a atenção logo de cara foi o insistente uso de câmera na mão, utilizado pelo diretor do filme, Antônio Carlos de Fontoura. Em determinados momentos, a câmera treme tanto que é bem possível que alguém que tenha labirintite passe mal no meio da exibição. Outra questão desnecessária foi usar duas vezes a mesma abordagem (piegas, por sinal) de mostrar Russo ao lidar com um problema com seu amigo e parceiro de criação do Aborto Elétrico (a banda do cantor pré-Legião) Petrus e com sua grande amiga Ana Cláudia (que viria a ser de fundamental importância na vida do músico). O que dizer então de transformar um momento belo do longa (um pedido de desculpas do cantor) em um vídeo clipe? Tirou totalmente o clima da cena, isso para não dizer que soou deslocada.
Outro ponto que pode vir a incomodar reside no ator Thiago Mendonça. Embora o intérprete tenha ficado muito parecido fisicamente com o cantor (a semelhança chega a assustar), acredito que faltou realizar um trabalho para deixar a voz mais parecida com a de Russo (citando como exemplo o trabalho feito por Rui Ricardo Dias no filme Lula – O filho do Brasil). Não quero dizer que Mendonça se saiu mal, apenas que poderia ter sido melhor.
Contudo, mesmo com esses contras, é pouco provável que o filme naufrague nas bilheterias. A força residente em Renato Russo certamente é maior do que estes pormenores e não vai nem diminuir ou minimizar sua importância para a música brasileira.
O filme estreia nos cinemas no dia 03 de maio.
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