Nova York – Produzido e dirigido pela alemã Monika Treut, o documentário Warrior of Light (Guerreira de Luz), sobre a persistente ativista social brasileira Yvonne Bezerra de Mel-lo e seu trabalho voluntário com crianças de rua do Rio de Janeiro, estreou em Nova York provocando nó na garganta e choque na consciência dos espectadores.
Nos debates com o público após as três primeiras apresentações do filme, no fim de semana, Yvonne enfatizou que o abandono a que estão relegadas as crianças hoje não é um problema apenas do Brasil. “No Iraque, já há milhões de crianças pobres e analfabetas e ninguém está fazendo nada por elas”, criticou Yvonne. “Essas crianças vão se tornar os terroristas do futuro e com toda razão”.
O filme chega aos EUA depois de passar por 25 festivais internacionais, com críticas elogiosas em países tão diferentes como Alemanha, Canadá, Coréia, Grécia (onde foi premiado no festival de Tessalonica), Israel, Itália, Portugal e Taiwan.
Monika está em negociações com a rede de televisão pública norte-americana PBS para exibi-lo em cerca de 350 emissoras. No Brasil, o documentário foi visto apenas em duas sessões durante o Festival do Rio e uma em São Paulo, no ano passado. “As pessoas não gostam do assunto”, diz Yvonne. “A verdade nua e crua incomoda”.
Warrior of Light traça o perfil de Yvonne – carioca nascida numa família de classe média que se tornou escultora, filóloga, poliglota, é ex-esposa de um diplomata sueco, mãe de três filhos e casada atualmente com um empresário de hotelaria – que se dedica a causas sociais desde adolescente. Inteligente, loquaz e destemida, para cuidar das crianças pelas quais é responsável, ela transita por onde impera a lei tribalista dos traficantes (e os enfrenta) com mais tranqüilidade e confiança que os próprios moradores do lugar.
Yvonne tornou-se uma voz de denúncia internacionalmente conhecida em 1993, quando a polícia matou oito garotos que dormiam na frente da Igreja da Candelária; eram todos de um grupo ao qual ela prestava assistência e a “tia Yvonne”, como ela é conhecida, foi a primeira a quem os sobreviventes chamaram para pedir ajuda e proteção.
Ao mesmo tempo, o documentário mostra a vida de meninos e meninas, rodeados por miséria e violência, nas duas unidades do Projeto Uerê, criadas por ela nas favelas de Vigário Geral e da Maré, no Rio. Ali ela aplica a metodologia que defendeu em sua tese de mestrado em serviços públicos, há dois anos, na UFRJ. No que chama de “clubes educacionais divertidos e de portas sempre abertas”, Yvonne atende a 210 menores, entre 3 e 18 anos, que recebem comida, remédios, ensino, lazer, carinho e também algumas broncas da “tia”, quando merecem.