A angústia de refletir sobre a própria vida e perceber a necessidade de mudar, querer arriscar, tentar algo diferente. Na faixa dos 20 e poucos anos, parece que as oportunidades da vida ainda serão muitas.
Mas, quando se chega aos 30 e se percebe que aquela vida especial se transformou em uma limitada rotina de trabalho e problemas do cotidiano, a frustração sobre os sonhos perdidos pode resultar na famosa “crise dos 30”.
Em Foi apenas um sonho, filme que estreia hoje no circuito nacional, o casal Frank e April Wheeler (Leonardo DiCaprio e Kate Winslet) decide que precisa alcançar “algo a mais” e prometem não ficarem presos aos limites sociais de sua época.
Quando percebem, os dois se tornaram exatamente aquilo que não queriam: têm uma casa confortável, mas localizada no subúrbio da cidade americana de Connecticut, dois filhos, o marido trabalha em uma empresa que não lhe satisfaz e eles não conquistaram nada de extraordinário.
April, por sua vez, desistiu da carreira de atriz e agora é uma insatisfeita dona de casa que sugere ao marido deixar o conforto de Connecticut para trás e mudar-se para Paris, onde uma nova vida pode trazer a felicidade que sempre sonharam.
Eles são os únicos em seu meio social a assumir as dúvidas que todos têm e de arriscar – ou pelo menos admitir o desejo de tentar algo novo – enquanto a reação da sociedade é de vê-los patinar em um plano infantil e imaturo. Essa posição crítica é, para algumas pessoas, uma forma de esconder a inveja que têm da ousadia dos Wheeler.
A volta da dupla DiCaprio e Winslet funciona muito bem na trama. Mas a sincronia não está em cenas de romance, muito pelo contrário. Eles em nada lembram o casal de Titanic, da década de 1990.
É nas cenas tensas e angustiantes de discussão – e elas são muitas – que a atuação dos dois sobressai. Pela atuação em Foi apenas um sonho, os dois foram indicados ao Globo de Ouro deste ano, embora o prêmio tenha ficado apenas com Winslet.
Na premiação, a obra também recebeu indicações de melhor filme e melhor diretor. Já para o Oscar, cuja noite de entrega das estatuetas acontece no dia 22 de fevereiro, o filme concorre nas categorias de melhor ator coadjuvante, com Michael Shannon, melhor direção de arte e melhor figurino.
Shannon interpreta John Givings que, apesar de já ter sido internado em uma clínica psiquiátrica e ser apontado como um doente mental, sob alguns pontos de vista pode ser visto talvez como o mais são dos personagens da trama por levantar os reais problemas das pessoas ao seu redor.
Foi apenas um sonho é também a volta do marido de Winslet na direção, Sam Mendes (Beleza Americana e Estrada para a perdição) e da discussão do vazio existencial característico de seus filmes, a partir da adaptação de um romance de Richard Yates publicado nos anos 1960s.