Da Grécia veio ontem um filme de uma beleza de cortar o fôlego. O rigoroso “Meteora”, de Spiros Stathoulopoulos, é sobre padre e freira, ambos noviços, que habitam monastérios no alto de montanhas situadas uma de frente para a outra. Quando descem a planície, é para se amar. Desesperam-se, são devorados pela culpa. Mas Deus é magnânimo. O único pecado sem perdão é o desespero. Não é o tipo de filme que se espera vindo de um país como a Grécia, num momento de crise. Mas talvez seja essa a ideia de Stathoupoulos – desesperar, jamais. Seu filme mistura animação com live action, tem uma dupla que apaixona e a trilha de cantos bizantinos completa o encantamento.
Deus é grande, Alá é misericordioso, gritam os terroristas que invadem um resort nas Filipinas e fazem um monte de reféns em “Captive”, de Brillante Mendoza. Há dois anos, Mendoza concorria em Cannes e o júri era presidido por Isabelle Huppert. Ele terminou vencendo o prêmio de direção, por “Kinatay” (Matança), e ali mesmo decidiram que queriam trabalhar juntos. “Captive”, informa o letreiro logo no começo, baseia-se numa história real. Isabelle faz uma missionária. Durante mais de um ano ela integra grupo de reféns. Os terroristas exigem resgate, as autoridades filipinas colocam o Exército na trilha dos sequestradores.
Eles vão sendo libertados, mas, nos tiroteios frequentes, terroristas e reféns vão sendo abatidos. Mendoza critica a violência dos terroristas, mas sem propriamente condená-los. São, até certo ponto, respeitosos com seus reféns. O desrespeito maior pela vida humana vem, talvez, do Exército, mas é algo a discutir. Como um ator, uma atriz, se prepara para um filme desses? “Não houve preparação formal. Brillante gosta de trabalhar na urgência, criando o caos e jogando a gente dentro dele para expressar o momento”, disse Isabelle Huppert. O diretor foi além – diz que faz cinema para dar seu testemunho sobre o mundo ao redor. “Captive” tem essa urgência. Dura duas horas e, embora tenha momentos impressionantes, deixa um tanto a desejar.
Brillante Mendoza não é, ou nunca foi, até aqui, o que se chama de “narrador”. Seus filmes constroem-se por meio de cenas (longas), que vão sendo justapostas. E ele gosta de criar imagens de choque. Mendoza filma bem a violência dos tiroteios, mostra em detalhe um parto – debaixo da maior carnificina -, mas meio que tropeça no que, no novo filme, é a necessidade de contar a história. “Captive” é melhor nas partes que no todo. Não está sendo um caso isolado na Berlinale de 2012. Com exceção do espanhol “Dictado”, de Antonio Chavarrias, muito ruim, ou pelo menos indigno de estar num festival como o de Berlim – a seleção tem mostrado filmes bons, mas nada verdadeiramente excepcional.
Quer dizer. Os irmãos Taviani, de volta sem nunca, realmente, terem ido embora, assinam o melhor filme até agora, “Cesare Deve Morire”. Num presídio de alta segurança, em Roma, os internos encenam “Julio Cesar”, de Shakespeare. Na peça, Marco Antonio, no célebre elogio fúnebre de Cesar, diz que Brutus, um dos assassinos, matou – mas é um homem de bem. Mafiosos, camorristas, todos os presos (de verdade) também se autodefinem como homens de bem. O filme é documentado, não um documentário. Os Taviani trabalharam com os presos para produzir uma ficção (um docudrama?). No final, um deles, de volta a sua cela, diz que, desde que descobriu a arte, aquilo realmente lhe parece uma prisão. Maravilhoso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.