Filme de Mel Gibson sobre Jesus gera polêmica

Faltando meio ano para sua estréia nas salas cinematográficas, prevista para a Quarta-Feira de Cinzas de 2004, “The Passion”, o filme dirigido por Mel Gibson sobre as últimas 12 horas de vida de Jesus Cristo, já gera polêmicas nos Estados Unidos.

Definido pelo próprio Gibson como o longa-metragem mais autêntico baseado na Bíblia sobre a morte e Paixão de Cristo, o filme está se tornando, a cada dia que passa, em fonte de discussão no interior dos mundos católico e judeu, preocupados com a possibilidade de que o filme expresse idéias anti-semitas.

“The Passion”, com Monica Bellucci no papel de Maria Madalena, promete, segundo anunciou Gibson, que investiu cerca de US$ 25 milhões no projeto, ser uma transposição fiel e realista das palavras do Novo Testamento.

É justamente o pretexto de realismo que parece ter levantado as primeiras críticas em março passado, quando um grupo de estudiosos das Sagradas Escrituras (cinco católicos e quatro judeus) manifestaram suas dúvidas diante de uma possível leitura anti-semita que possa surgir no filme sobre a Paixão de Cristo.

Mel Gibson mostrou seu filme a grupos cristãos-evangélicos, fundamentalistas católicos, membros da corrente mais conservadora dos republicanos, e judeus que identificam o Messias na figura de Jesus.

Para os estudiosos cristãos e judeus, a obra de Gibson não fará mais que complicar as relações entre os mundos cristão e judeu, alimentando o anti-semitismo.

Segundo os estudiosos, o filme se apresenta como uma transposição moderna da iconografia medieval da Paixão orientada a apresentar o povo judeu como “assassino de Jesus” e a reavivar a violência nesse sentido.

Segundo alguns críticos, como Frank Rich, do “New York Times”, o ator vem exibindo uma versão do filme a platéias convidadas que nem sempre são ecumênicas. Um líder judeu cujos pedidos para ver o filme vêm sendo recusados é Abraham H. Foxman, da Liga de Combate à Difamação.

Mel Gibson é católico ultraconservador

“Gibson faz uma seleção daqueles que vão apoiá-lo. Se o filme é uma afirmação de amor, como anuncia, por que não exibi-lo para mim?”, perguntou Foxman.

A “Times Magazine” publicou um artigo em que reproduz uma suposta fala de Hutton Gibson, pai de Mel Gibson, que teria dito que o Concílio Vaticano II “foi uma conspiração maçônica apoiada pelos judeus” e que o “Holocausto foi uma farsa”.

Gibson, por sua vez, que há anos faz parte dos ultraconservadores católicos que rejeitam o Concílio Vaticano II, rezando a missa em latim e não reconhecendo a autoridade dos papas eleitos depois do Concílio, fez sua própria defesa em um comunicado em que especifica que “o anti-semitismo não apenas é contrário aos meus valores pessoais, mas também à mensagem de meu filme, pois ?The Passion? busca inspirar e não ofender”.

É importante lembrar, no entanto, que foi o Concílio Vaticano II que inocentou os judeus da acusação de deicídio.

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