Filme apresenta estudo sobre a insensibilidade

Em meio ao trânsito caótico, o farol fica vermelho. Quando o sinal abre, um automóvel não se movimenta. “Estou cego!”, grita o motorista. A partir desse primeiro caso inexplicável, uma repentina epidemia de cegueira se alastra rapidamente.

É dai que parte o filme Ensaio sobre a cegueira (Blindness) para criticar a fragilidade e a falta de sensibilidade da sociedade atual. Adaptação do livro de mesmo nome do escritor português José Saramago, Ensaio é uma das estréias de hoje nos cinemas de todo o País.

Após o primeiro caso, a cegueira logo se alastra e os infectados são colocados em quarentena em um antigo hospital. A exceção é a esposa de um médico, única que continua a ver, interpretada pela atriz norte-americana Julianne Moore, que deixou seus característicos cabelos ruivos para transformar-se em loura para a produção. Embora não tenha sido contaminada, ela finge também estar cega para ficar ao lado do marido.

Divulgação/Fox
Ensaio sobre a cegueira: além do elenco internacional, locações no Brasil.

Em pouco tempo, a cegueira coletiva causa o inevitável caos e os hábitos cotidianos mudam radicalmente. Com uma coragem cada vez maior, a mulher do médico passa a ser a líder de uma inusitada família que se forma quando eles conseguem sair do hospital.

Além do marido, juntam-se ao casal o primeiro homem a ficar cego e sua esposa; a Mulher dos Óculos Escuros; o Velho da Venda Preta e a Criança. Na tela, o enredo, em sua maior parte, manteve-se fiel ao livro, mantendo inclusive os personagens sem nome.

Longe de ser um blockbuster, a produção dirigida pelo brasileiro Fernando Meirelles (de O jardineiro fiel e Cidade de Deus) não é um filme fácil. Nem é pra ser. O filme abusa do branco, inclusive deixando em muitas cenas a tela toda tomada pela cor (já que essa cegueira é branca, e não negra).

Entre os atores principais, a escolha de diferentes nacionalidades remete à situação mundial que a obra pretende transmitir. Há atores norte-americanos (Julianne Moore), brasileiros (Alice Braga), mexicanos (Gael García Bernal, no papel do vilão da trama) e japoneses (Yusuke Iseya e Yoshino Kimura).

Críticas

A aceitação estrangeira à adaptação de Ensaio sobre a cegueira não foi das melhores. Na abertura do Festival de Cannes, as opiniões ficaram divididas e o filme foi muito criticado. A má aceitação internacional, inclusive em sessões-teste com público, levou Meirelles a modificar o produto final para a sua estréia no Brasil.

Uma das mudanças foi atenuar as cenas de estupro, além de cortar a narração em off que, inicialmente, permeava todo o filme. Na versão que chega aos cinemas brasileiros, a narração, que é a do Velho da Venda Preta, permanece em apenas alguns trechos.

Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, Saramago demorou para conceder os direitos para a transformação da obra em filme, o que levou alguns críticos a dizer que, com o resultado na tela, Saramago tinha razão no seu receio. No entanto, desafiador, o filme consegue colocar elementos que traduzem a atmosfera criada pelo escritor.

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