Quando Milton Nascimento cantou pela primeira vez “vida de moleque é vida boa”, João Lucas Martins sequer havia nascido. No entanto, o menino de 12 anos parece ter sua breve história contada pela canção de 1995. Entre 300 crianças, ele foi escolhido para protagonizar Menino Maluquinho – O Musical, que estreia sábado, 19, no Teatro Bradesco. Com energia proveniente de sua juventude, ele não reclama de cansaço. Afinal, além de dedicar um período de seu dia aos bancos da escola, passa cerca de seis horas ensaiando em um estúdio no bairro de Perdizes. Sempre brincando, sorrindo e fazendo estripulias, todas fora do roteiro da peça. Assim como Ziraldo imaginou seu “filho”, em 1980.
“Olha como sou sexy”, brincou o garoto ao se exibir para os coleguinhas de elenco em cima de um aparato cênico improvisado durante um ensaio acompanhado pela reportagem do Estado. “Eu me canso um pouco, mas me divirto muito também. Isso aqui não é um trabalho, é minha hora de brincar”, disse o menino.
Ao contrário das outras crianças do elenco, João nunca fez um trabalho artístico profissional e chama a atenção por sua imersão no universo do personagem. “Acho que consegui o papel por ser muito parecido com o Menino Maluquinho. Sou muito ligado e estou sempre aprontando algo”, comentou o ator mirim, que passa boa parte do espetáculo em cena com o também estreante Enrico Alves de Lima, filho do cantor Chitãozinho, intérprete de Bocão, amigo e fiel escudeiro de Maluquinho. As outras 12 crianças vêm de participações de destaque em tramas infantis da TV, como Carrossel, Chiquititas, Patrulha Salvadora – todas do SBT – e da novela Joia Rara, exibida recentemente pela TV Globo.
O espetáculo segue a narrativa publicada no livro de 1980. Com direção de Daniela Stirbulov e Paulo Nogueira, o texto ganhou o reforço das músicas de Paulo Ocanha e Daniel Carvalho, feitas exclusivamente para este musical, que incorporaram a essência do personagem e o universo infantil com sensibilidade, em letras e melodias que traduzem o mundo fantástico presente na mente das crianças. “Não quis me envolver em nada. O Menino Maluquinho já tem vida própria. Seria como escolher a namorada para o filho. Quero me surpreender quando assistir”, disse Ziraldo, em entrevista por telefone.
Além do escritor, as mães dos pequenos atores também não fazem ideia de como eles têm se desenvolvido em cena. Por decisão da produção, foram impedidas de entrar nas salas de ensaio para não inibir as crianças. “Todas são muito zelosas e querem, a todo instante, tirar fotos. Há quem dê palpite sobre o roteiro e músicas. Fizemos isso pelo bem de todos”, comentou um produtor, que preferiu não ter o nome publicado. Mesmo com a proibição, algumas orientam os filhos a gravar os ensaios de canto com seus smartphones. E ficam a postos, no hall do estúdio, esperando os intervalos para ouvir o material coletado pela criançada. “Como você canta bem, meu filho. Tomara que alguém importante te convide para gravar um CD”, disse uma mãe-coruja a um dos atores. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.