continua após a publicidade

Luiza Dantas

Cássio: ?Agora, tenho
registrado no meu currículo
um trabalho com Marília Pêra?.

Cássio Gabus Mendes deixa claro logo na primeira troca de olhar, que, aliás, evita, o quanto é tímido. Em alguns momentos, a voz do ator paulistano chega quase a desaparecer, de tão baixa e tranqüila. Nada que o impeça, no entanto, de falar e muito sobre os seus trabalhos com um entusiasmo digno de um estreante. Mas de novato na profissão Cássio não tem nada.

Ele é filho de um dos "fundadores" da tevê brasileira, o escritor, ator e diretor Cassiano Gabus Mendes e sobrinho do também ator Luís Gustavo. Além de ter nascido no meio artístico, já contabiliza 23 anos de carreira. Atualmente, Cássio interpreta o médico Sidarta em Começar de Novo e, apesar dos "tropeços" e da baixa audiência da novela, ele garante estar muito satisfeito com o papel. "Logo de cara, vi que o personagem era muito rico em conflitos, principalmente familiares. Isso me fascina", revela o ator de 42 anos.

Problemas realmente não faltam ao personagem de Cássio. Desde o início da trama, o "careta" e "certinho" Sidarta se desentende com os pais, dois ex-hippies, vividos por Luís Gustavo e Marília Pêra, por não concordar com o comportamento "zen" deles. O médico também já enfrentou uma crise no casamento provocada pelo aparecimento de uma filha, que até então desconhecia, e pelo câncer da mãe. Para tornar o personagem mais crível, diante de tantos "pepinos", o ator procura interpretá-lo tendo sempre em mente que Sidarta vive uma luta diária e se desgasta excessivamente.

continua após a publicidade

Com o tio

Como, para Cássio, o contato com a televisão vem de berço, ele é do tipo pé no chão, sem qualquer deslumbramento com o "glamour" que envolve quem aparece na tevê. Mas apesar de toda a experiência e a familiaridade com o meio, o ator não esconde um certo encantamento por atuar ao lado de seu tio e de Marília Pêra. Na verdade, essa é a segunda vez que Luís Gustavo e Cássio vivem pai e filho na ficção. A primeira foi em 1985, em Ti-Ti-Ti, de Cassiano Gabus Mendes. Já com Marília Pêra, Cássio nunca havia contracenado. Ele apenas atuou em uma mesma novela que ela, Brega & Chique, de 1987, também de Cassiano. "Agora, tenho registrado no meu currículo um trabalho com Marília Pêra", comemora. Segundo o ator, trabalhar com esses "medalhões" da dramaturgia foi uma das principais motivações para aceitar o convite para a novela, que surgiu quando ele ainda estava na minissérie Um Só Coração.

continua após a publicidade

Outro lado

O elenco, no entanto, não foi o único aspecto que seduziu Cássio a interpretar Sidarta. O ator assume que a sua imagem costuma ser associada a tipos cômicos por causa de personagens como Afraninho, que interpretou durante dois anos no seriado Mulher, e do farsante Paulinho de Um Anjo Caiu do Céu, que se fez passar pelo afetado estilista Selmo de Windsor. Como tem consciência do quanto a tevê pode estigmatizar um ator, Cássio não perde a chance de fazer um papel que dê uma "sujada" nessa imagem, como é o caso do médico de Começar de Novo. "Acho que o ator tem de buscar perfis bem diferentes. Diversificar sempre é um grande exercício", frisa.

Cássio Gabus Mendes é mesmo "cria" da televisão. Em 23 anos de carreira, fez 18 novelas, cinco minisséries, apenas três filmes e poucas peças de teatro. Mas o ator garante que não tem o que reclamar da sua trajetória. "Eu me sinto um privilegiado. Dei sorte de receber convites para bons papéis, trabalhei com pessoas importantes e aprendi muito", valoriza. Para a satisfação ficar completa só falta realizar um desejo não muito original no meio artístico: interpretar um vilão. Segundo ele, um papel como esse ajudaria ainda mais a "manchar" a imagem cômica associada a ele.

Quando a novela acabar, ele quer montar um espetáculo teatral, para ver de perto como é a atividade de um produtor. "Quero ver o filho nascer, mas de fora do palco", frisa. O ator também pretende se dedicar um pouco mais ao cinema. Em 2003, ele filmou o terceiro longa-metragem da carreira, interpretando pela primeira vez um protagonista, e adorou a experiência. Como fazer um filme de amor, de José Roberto Torero, estreou no final do ano passado e é uma comédia que ironiza os próprios filmes românticos. Cássio viveu Alan, um empresário bem-sucedido que, ao mesmo tempo em que era um galã, fazia paródias das atitudes tradicionais de um "mocinho". "Foi um personagem feito absolutamente sem pudor. Eu tinha de quebrar o encanto do galã", relembra.