É a primeira vez que Lucas Veloso atua em uma novela. Acostumado a fazer as pessoas rirem em seus shows de humor no Nordeste do País – talento herdado de seu pai, o comediante Shaolin (1971-2016) – ele tem usado o ‘palco’ de Velho Chico para mostrar que suas habilidades cênicas vão além da provocação do riso. O bom resultado nos testes lhe renderam um papel no núcleo central da trama, e o bom desempenho diante das câmeras ampliaram sua participação nos capítulos.
Lucas soube que o diretor Luiz Fernando Carvalho estava procurando artistas nordestinos que pudessem trabalhar com comédia e foi atrás de uma oportunidade. “Eu mandei meu material pra ele analisar se cabia no projeto, e aí ele me chamou pra fazer um teste no Tevelier [galpão no Projac em que os atores ensaiam], que é onde ele prepara os atores, e aí eu fiz teste. Passei uma semana lá com os preparadores, foi uma semana bem legal e tensa ao mesmo tempo, porque eu não tinha resposta. Na sexta-feira, ele resolveu confiar o papel a mim, viu que eu estava me encaixando na ideia do personagem e aí fiquei na novela.”
Orgulhoso de seu personagem, que também se chama Lucas, o ator e diz que as semelhanças vão além do nome. “Ele tem muita coisa parecida comigo”, garante. “A gente ficou cinco meses naquele galpão experimentando, errando, decorando texto, estudando, e nesse tempo eu encontrei muita coisa legal do personagem e acabei me apegando a ele. Tem hora que eu me pego pensando na vida dele, deixo de pensar na minha às vezes para pensar na dele. Criamos uma conexão muito bacana e todo dia eu me surpreendo, descubro uma coisa nova”, completa.
Sobre o futuro de seu personagem em Velho Chico, ele lamenta a chegada de Miguel (Gabriel Leone) à fictícia Grotas do São Francisco – cidade em que a história é ambientada -, mas diz que “o personagem vai começar a andar muito com Santo (Domingos Montagner), então vai se espelhar um pouco nele, vai amadurecer” e espera que Olívia (Giullia Buscacio) enxergue o lado ‘mais homem’ de Lucas, porque “até agora ela só o vê como um amigo, enquanto ele a vê como um amor”. O ator ainda defende: “Eu acho que o Lucas vai dar um acompanhante muito bom para ela”.
Pai
Veloso lembra com carinho de quando contou para seu pai, morto em janeiro deste ano, que conquistou o papel em Velho Chico. “Ele ficou muito feliz, porque ele também começou nessa casa, na Globo”, lembra o ator, que citou a ajuda de Shaolin em sua preparação profissional – ele dirigiu os primeiros shows de humor do filho.
“Ele estava radiante, eu ficava contando para ele como era o personagem, e ele me dava um norte na construção do lado cômico do personagem. Eu pedi auxílio a ele, pedi algumas referências, como Jim Carrey, Jack Lemmon e Charlie Chaplin. Acabei construindo o personagem com a ajuda dele”, garante.
Nos palcos, Lucas diz ter sentido a cobrança do público para ser tão engraçado quanto seu pai. “O Chico Anysio costumava dizer que todos os humoristas são insubstituíveis. Não tem como tentar ser um segundo Costinha, ser um segundo Chico Anysio, não tem como repetir. Eu sempre procurei criar minha a identidade, e, depois de um tempo, as pessoas vendo eu trabalhando, começaram a entender que é um outro comediante”, declara.
Mesmo assim, Lucas ainda se sente pressionado devido ao carinho do público com o trabalho de seu pai. “As pessoas vão assistir para matar um pouco da saudade dele [Shaolin]. Ainda tem um restinho dele, mas é mais aliviado, tem menos cobrança”, diz.
De volta aos palcos. No momento, Lucas está focado em Velho Chico, mas garante que não vai abandonar os shows de humor. “Enquanto estou gravando a novela, dei essa pausa porque a agenda não consegue se adaptar, mas vou voltar com um espetáculo novo, que foi o último trabalho que fiz com meu pai, a última direção dele no meu trabalho, e aí pretendo rodar o Brasil inteiro.”
O espetáculo em questão se chama Cócegas no Cérebro, ainda sem data de estreia. “O artista que subiu no palco uma vez não consegue nunca deixar esse pedaço”, afirma o ator.