Em tempos de “Quando a luz dos olhos teus…” martelando na TV o tempo todo (para desespero do finado Tom Jobim) é que dá mais saudade de gente como Gilberto Mendes, compositor que nos anos 60 começou a criar jingles – com bom senso – e ajudou a fundar, ao lado de Damiano Cozzella, Régis e Rogério Duprat, Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari e outros, um movimento de vanguarda conhecido como Música Viva.
Este ano Gilberto Mendes completa 80 anos, e a Orquestra Filarmônica Juvenil da Universidade Federal do Paraná presta uma homenagem a ele no final de semana no Teatro da Reitoria – amanhã às 20h30 e domingo às 16h, este último precedido por um debate com a presença do compositor. A entrada é franca.
Mendes ganhou notoriedade por incorporar uma nova linguagem à música de concerto, renovando-a com pitadas de arte pop. Obras dos anos 60 como o coro a capella para Beba Coca-Cola, sobre texto de Décio Pignatari, ou Ashmatour, são um emblema da maneira bem-humorada de como ele gostava de criticar o capitalismo, usando jingles como peças musicais.
Nos anos seguintes, o compositor passou a vasculhar o baú de referências que o cercava desde a infância, com obras como Santos Football Music, Ópera Aberta para Soprano e Halterofilista e Ulysses e Copacabana surfando com James Joyce e Dorothy Lamour, todas com um forte componente satírico, presente no uso proposital de clichês e na opção pelo kitsch musical, representado pela música de Hollywood dos anos 40.
Gênese
A Música Viva de Gilberto Mendes deu origem a dois importantes movimentos culturais do Brasil nos anos 60, que mantêm suas ramificações até hoje. Na poesia, os intelectuais que acompanharam o compositor forjaram o concretismo, e se tornaram referência universal para a linguagem poética contemporânea. Na música, esse trabalho se refletiu na criação de uma nova forma de comunicação, que primeiro tomou conta da publicidade, para depois chegar à música popular brasileira, no que depois ficou conhecido como Tropicália.