O cavaleiro da triste figura sobe nesta segunda-feira, 26, ao palco da Sala São Paulo em forma de música. “A riqueza da personagem, associada à riqueza da partitura de Strauss fazem dessa peça uma das mais belas e complexas do repertório”, diz o violoncelista Gautier Capuçon, solista no “Don Quixote” do compositor alemão que abre o concerto da Orquestra Filarmônica de Hamburgo, sob regência do maestro Kent Nagano.

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Strauss escreveu a peça em 1897 e deu a ela o subtítulo de “Variações fantásticas sobre o tema de um personagem cavaleiresco”, inspirado no célebre livro de Miguel de Cervantes. “Em muitos sentidos, é como uma ópera sem palavras. O violoncelo encarna Don Quixote e a viola e outros instrumentos personagens como Sancho Pança e Dulcineia”, explica o francês Capuçon. “Conhecer a história ajuda tanto ao intérprete quanto ao público, mas a escrita é tão clara, tão evocativa, que a compreensão é imediata, do início até a cena da morte de Quixote, um dos momentos mais bonitos e tocantes da obra de Strauss”, completa.

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Capuçon é um dos solistas que a Filarmônica de Hamburgo traz ao Brasil nesta turnê, pela temporada da Cultura Artística. Ao seu lado, está a soprano japonesa Mihoko Fujimura, que, na terça, 27, interpreta as “Canções Wesendonck”, de Wagner, de quem o grupo toca também o “Prelúdio e morte de amor”, da ópera “Tristão e Isolda” (o programa se completa com a “Sinfonia nº 6” de Bruckner). Nesta segunda, 26, além do “Don Quixote”, a orquestra interpreta a “Sinfonia nº 1” de Johannes Brahms.

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Capuçon, Fujimura e Nagano são três estrelas do cenário internacional, mas a protagonista dos concertos é, de certa forma, a enorme tradição da música germânica, associada à trajetória da filarmônica, criada em 1828. “Você sabe, um de meus predecessores como diretor da orquestra foi Brahms”, brinca Nagano. E, em seguida, assume tom mais sério. “Não seria exagero dizer que uma parte importante da história da música germânica se mistura à própria história da orquestra. Os programas que montamos para os dois concertos em São Paulo levaram isso em conta. Tentamos fazer algo que representasse a nossa história. Além de Brahms, grandes wagnerianos e brucknerianos, como Eugen Jochum e Joseph Keilberth, também dirigiram a filarmônica. E o Don Quixote, de Strauss, é, para uma orquestra acostumada a fazer ópera, chance interessante de contar uma história com música, sem palavras.”

Mas Nagano, nascido nos Estados Unidos, faz questão de ressaltar que tradição não pode significar “repetição”. Não se deve, segundo ele, olhar o passado de costas para o futuro, mas, sim, compreender a história da música como algo em constante evolução, tanto no que diz respeito à criação como também à interpretação. “Quando se olhar para uma obra-prima, é preciso reconhecer que ela está acima da nossa noção de tempo. É preciso viver o passado à luz do nosso tempo e entender a tradição como uma verdade compartilhada, na qual seguimos acreditando.”

Capuçon segue na mesma linha. Aos 35 anos, é um dos mais dinâmicos instrumentistas de sua geração, aberto a um amplo repertório, que foge do óbvio, e já responsável por interpretações de referência ao lado de grandes maestros, como Claudio Abbado ou Bernard Haitink. “A tradição é algo importante quando se traduz, por exemplo, em termos de sonoridade, como com essa orquestra, composta de músicos que carregam ensinamentos de antigas gerações. Mas ela é um ponto de partida. É estimulante perceber como é desse diálogo de sonoridades e de histórias diferentes que se constrói a riqueza da música clássica”, diz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

ORQUESTRA FILARMÔNICA DE HAMBURGO

Sala São Paulo. Pça. Julio Prestes, s/nº, tel. (011) 3223-3966. Segunda (26) e terça (27), 21h. R$ 50 a R$ 510.