Não há como escapar às luzes do Rock in Rio. Feche os olhos na Cidade do Rock e um fenômeno entóptico, condição em que cores continuam visíveis após o cerrar das pálpebras, sucede, provavelmente com o verde de uma logomarca de cerveja, ou o vermelho de uma de refrigerante. Beba isso, masque aquilo. Noite adentro, o néon publicitário do evento assalta a retina, emplacado em rodas-gigantes, tirolesas e stands. Neste momento, goteja pelo inconsciente de 90 mil pessoas, pronto para direcionar a preferência da próxima compra.
Em 2011, a organização do Rock in Rio captou R$ 95 milhões em acordos publicitários. Este ano, o número é estimado em R$ 135 milhões, e mais de 70 marcas pedindo atenção da massa em espaços da Cidade do Rock.
Elas não querem apenas exposição, mas uma forma mais próxima de relacionamento com o público. Este ano, a novidade é uma boia inflável, no formato de uma abobrinha graúda, que estampa marcas de automóvel, refrigerantes e TV por satélite, que é vista em todos os cantos do evento.
E assim o espectador deixa que as marcas o transformem em um outdoor ambulante. A ação de uma marca de biscoitos é particularmente invasiva. Após 40 minutos, os que esperam têm suas fotos tiradas e impressas em um gigante cartaz oval, com a marca no verso. Saem então pelo evento com uma marca impressa no verso de suas cabeças. Em outro stand, há uma fila para tirar uma foto com os amigos dentro de uma lata gigante, que diz ‘Quanto Mais … Melhor’. Isso sem mencionar as pulseiras que piscam as cores laranja e azul de uma empresa bancária.
Para finalizar, a marca do Rock in Rio é reforçada com o seu esperto “Eu Vou”, que toma diversas finalidades, desde a saudável “Eu vou sem drogas”, à sustentável “Eu Vou de Ônibus”, mas no fundo reforça a marca do festival sobre qualquer identidade musical. Está de acordo com o que a empresária Roberta Medina, filha do dono Roberto Medina, diz à imprensa desde 2011: o Rock in Rio não é tanto um festival de música, quanto um evento de entretenimento, que é, em si, o foco do público. A tese é reforçada pelo fato de os ingressos serem vendidos antes mesmo do anúncio da programação. E assim, com uma plateia fiel, o parque de diversões de Roberto Medina é mais negócio para os patrocinadores do que um Lollapalooza, por exemplo, que este ano teve o mesmo número de pessoas de uma noite no Rock in Rio, mas muito menos patrocínio do que o planejado.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.