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Festival português une terror e humor

Lançado em circuito nacional no ano passado, sem grande alarde, A Comédia Divina, de Toni Venturi, ganha nesta sexta-feira, na Europa, uma vitrine de peso a olhos nerds (e aos olhos de grandes distribuidoras estrangeiras) que virou folclore na cultura pop, o Fantasporto, festival português apelidado de “Cannes do terror”. Com Murilo Rosa na pele do Tinhoso em pessoa, a adaptação de Venturi para o conto A Igreja do Diabo, de Machado de Assis – único longa-metragem brasileiro em concurso por lá -, é um terror. Sua presença na competição é um indicativo de que nem só de horror vive a seleção deste evento, já em sua 38.ª edição, realizado anualmente na cidade do Porto, lotando sessões com suas iguarias fantásticas.

Sangue espirrado, espíritos zombeteiros e desafios ao real são ingredientes comuns às produções selecionadas pela curadoria chefiada por Mário Dorminsky e Beatriz Pacheco Pereira, que este ano abriu suas portas com Marrowbone, do espanhol Sergio G. Sánchez, e o russo Anna Karenina: Vronsky’s Story, de Karen Shakhnazarov. Esta sexta, por exemplo, o cardápio por aqui vai além das tiradas cômicas de Venturi, estendendo-se a um suspense inglês sobre uma casa de campo transformada num matadouro (Fractured, de Jamie Patterson) e um thriller policial com Bruce Willis (Acts of Violence, de Brett Donowho).

“No Fantasporto, não importa o gênero de filme, ele tem de ser muito bom. O problema do festival neste momento é o excesso de filmes para seleção: foram mais de 600, de todo o mundo, até de Bangladesh e do Quirguistão. Do Brasil, vieram cerca de 30, entre curtas e longas”, diz Beatriz Pacheco Pereira, a diretora do evento, ao Estado. “No Fantasporto 2018, realça-se a reinvenção e modernização de temas tradicionais, assim como uma preocupação evidente pela ética. Por exemplo, um surpreendente filme egípcio, The Originals, fala de uma sociedade moderna em que há um Big Brother e alta tecnologia; o representante da Estônia ao Oscar de filme estrangeiro, November, surpreende com uma adaptação de lendas rurais; um filme americano, Living Among Us, traz vampiros que se apresentam como gente, afinal, muito normal.”

Diante de concorrentes hi-tech, como a sci-fi do Japão Ajin: Demi-Human, de Katsuyuki Motohiro, ou darwinistas, como o russo Involution, de Pavel Khvaleev, Venturi é só ansiedade: não preocupado em ganhar, mas em saber como sua sátira satânica há de compor com longas sobre distopias, robôs atormentados ou mortos-vivos. “Estar aqui é uma experiência diferente, mas, desde que me propus a experimentar um novo gênero, para sair da zona de conforto e fazer uma obra com comunicação mais aberta, tudo está sendo vivido como uma primeira vez”, diz o diretor de Cabra-Cega (2004) e Estamos Juntos (2011).

Na quinta, o Além falou em português por aqui, em uma love story com tintas metafísica: Aparição, de Fernando Vendrell, que estreia em circuitos ibéricos dia 22. Baseado na prosa de Vergílio Ferreira (1916-1996), o projeto pilotado pelo premiado diretor de Fintar o Destino (1998) e O Gotejar da Luz (2002) – ambos laureados na Berlinale – é encarado como um dos principais lançamentos do cinema de Portugal do ano. Nele, Vendrell mostra um professor de latim às voltas com uma mulher que pode não ser o que parece. “Vida, paixão e morte são os pontos de partida da narrativa”, disse Vendrell, produtor de O Grande Kilapy (2012), com Lázaro Ramos.

Até agora, o país que melhor se impôs na telona do Cine-teatro Rivoli, a sede do Fantasporto, foi o Canadá, com Os Famintos (Les Affamés), um vertiginoso filme de zumbi dirigido por Robin Aubert (premiado no Festival de Toronto), e com The Child Remains, de Michael Melski. Este chamou atenção pelo bom desempenho da atriz Suzanne Clément à frente de uma sombria trama sobre um chalé onde funcionou, nos anos 1970, uma maternidade especializada em matar bebês.

“Este é um filme com nevoeiro, casa assombrada, governantas assustadoras… todos os códigos clássicos do medo. Só que eles estão aplicados aqui a serviço de um desejo de representar mulheres fortes na tela”, disse Melski ao jornal “O Estado de S. Paulo.

Usina de filmes de horror, a Ásia emplacou uma produção incomum aos padrões do Fantasporto: uma comédia política vinda da Coreia do Sul sobre corrupção. True Fiction, de Kim Jin-Mook, mostra um aspirante ao Senado flagrado com a amante. “O critério para filmar o que se quer, no cinema de gênero do meu país, é investir pesado no lado negro da alma humana, ainda que com humor.”

Viabilizado com o apoio do Instituto do Cinema e do Audiovisual de Portugal, o Fantasporto, que segue até domingo, promove neste sábado um tributo a um dos maiores astros brasileiros: Tony Ramos. Ele vem ao festival para divulgar a carreira internacional da série Vade Retro, da TV Globo. Nesta sexta, o evento exibe uma seleta de projetos da emissora carioca, entre os quais o seriado ainda inédito Carcereiros, com Rodrigo Lombardi, e o telefilme Meio Expediente, de Santiago Dellape. A atração de encerramento do evento será o thriller belga La Fidéle, de Michaël R. Roskam.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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