Belo, moreno, cabelos encaracolados, olhos claros – o tipo físico (de ‘meridionale’) foi decisivo para que Riccardo Scamarcio deslanchasse na carreira, tornando-se um dos atores mais conhecidos de sua geração no cinema italiano. Mas ele não esteve em São Paulo nesta semana na condição de ator. Veio como marido e produtor de Valeria Golino, a estrela italiana de Hollywood (Rain Man, de Barry Levinson), que estreia na direção com o longa “Miele” (Mel).
É uma das atrações da mostra contemporânea do Festival de Cinema Italiano, que segue até quinta-feira, 05, depois de apresentar, na primeira semana, a retrospectiva dos irmãos Taviani.
Scamarcio empolga-se ao saber que o repórter, um dia antes, entrevistou no Rio Spike Lee, e que o diretor de “Faça a Coisa Certa” lhe relatou seu encontro com Caetano Veloso e Milton Nascimento. Caetano! “Sou louco por ele. Ouço sempre. Suas homenagens a Federico Fellini e Giulietta Masina são emocionantes.”
Como e por que um ator com pinta de galã vira produtor do filme de sua mulher? “Só isso já basta para que você tenha ideia dos interesses que dominam o cinema italiano atual. Não conseguimos um produtor para bancar nosso filme. “Mel” trata de um terma forte, a eutanásia, e todos diziam que era um filme para perder dinheiro. Não é verdade. Fizemos o “Mel”, o filme teve ótimas críticas, o público compareceu. Não é nenhum blockbuster, mas estamos muito felizes.”
Tudo começou com o livro “A Nome Tuo”, de Mauro Covacich, que Valeria leu, e amou. Ela comprou os direitos com uma amiga (Viola Prestieri) e chegou a falar com alguns diretores – Silvio Soldini interessou-se -, mas chegou num ponto em que Valeria estava obcecada e o filme não andava. “Ma per che non lo fai te, amore?”, mas por que não o faz você, amor? A pergunta mágica de Scamarcio. Ela fez, ele produziu, o filme foi a Cannes (na mostra Un Certain Regard). Foi vendido para dezenas de países e agora Scamarcio e Valeria dão a volta ao mundo promovendo “Mel”.
Olhe aí a foto. Você sabe quem é ele. O ator de “Costa-Gavras” e Ferzan Özpetek, de “Éden a Oeste” e “O Que Disse Primeiro”. Scamarcio conta seus encontros com os cineastas greco-francês e turco-italiano. “Estava em Paris, um dia toca o celular, eu pergunto quem é, alguém responde ‘Sono Costa’, porque ele fala bem italiano. Costa quem? Gavras. ‘Que brincadeira é essa, quem é?’ Era Costa-Gavras, me propondo um papel que aceitei imediatamente. Costa é um mestre, e é um diretor à antiga. Olha no visor da câmera, não segue o filme pelo monitor. E, com ele, a gente aprende. Não só o ofício que, afinal, já conhecia, porque estudei para ser ator. Com Costa, a questão social, a humana, a política, tudo isso é tão importante quanto a estética.”
E Özpetek? “Ferzan é um doce de pessoa. Inteligente, sensível, acolhedor.” O repórter conta que conversou com ele por telefone quando saiu “O Primeiro Que Disse”. E de repente houve um barulho de fundo. Eram Valeria e Scamarcio chegando à casa do diretor, na Turquia, para o réveillon. “Era você ao telefone? Mas veja como a vida é feita de coincidências.” Jovens e belos – com a vida pela frente e bafejados pelo sucesso, marido e mulher ocupam-se da morte e de um tema tão controverso quanto a eutanásia.
FESTIVAL DE CINEMA ITALIANO – Cinemark – Iguatemi, Mooca.
Pátio Paulista, Cine Sabesp. Reserva Cultural. Até 5/12.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.